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Minha implicância com nomes, apelidos e “alcunhas profissionais”

Admito que é uma implicância preconceituosa.

Mas não consigo me livrar dela, talvez seja pela idade mais avançada.

Implico a toda hora com apelidos. Não com estes carinhosos dos parentes e pessoas queridas: Beto, Tonico, Kika, Bica. Super legal! Digo aqueles de gente importante, dos noticiários de TV.

Fiz até promessa de ano novo  para frear  com esta implicância, mas desisti no segundo dia de 2016.

E a culpa não é só minha.

Abro o noticiário na web e vejo que o Sr. Alexej Predtechensky, ex-diretor do Fundo de Pensão dos Correios, Postalis, é suspeito de ter gerado um rombo de R$ 5 bilhões durante sua gestão. Fui seguindo de forma compenetrada adiante no noticiário e aí vem… “conhecido como Russo”… pronto! Me questionei da forma habitual… como é possível um cidadão apelidado de “Russo” gerir o terceiro maior fundo de pensão do país? É mania de candidato à terceira idade? Claro que sim, uai!

Tentei corrigir-me em seguida… chicoteando-me mentalmente, num verdadeiro cilício interior de autoflagelo “você é um preconceituoso”, aquiesci. Recuperei-me e tentei seguir a vida com pensamentos mais amenos, vasculhando a internet, mas em seguida derrapei novamente: uma outra notícia dizia “o delator da Lava Jato, Fernando Antonio Soares Falcão, conhecido como Fernando Baiano, relatou “ter mantido reuniões em Buenos Aires com dois ex políticos para intermediar o favorecimento da venda da Transener, empresa controlada pela Petrobras”.

Pronto, meus pensamentos negativos novamente me tomaram de assalto. Como um executivo que afinal viajava para o exterior representando uma mega empresa, tem “alcunha profissional” , podendo  gerir milhões  de reais em negócios, entrando e saindo do edifício da Petrobrás sem que ninguém desconfiasse de nada?

Imaginei preconceituosamente o atendente do hall de entrada do imponente edifício informando alguém lá do 5.o andar: “o Fernando Baiano está aqui”. Me acalmei e procurei seguir resoluto que em 2016 corrigirei esta falha moral imperdoável.

Vá de retro satanás!

Mas a armadilha mental vai retornando… devagarzinho e me pego pensando: será que o Obama tem apelido? Será que em “petit comitê” a Sra. Michele o chama “mon cheri afro-descendente“?

Resolvi então avaliar a possibilidade de passar uns dias em Cabreúva no sítio do Tio Nini, apelido carinhoso para um nome complicado, Emygdio. Afinal apelido deveria servir para isso… descomplicar.

Minhas malas estão surradas e penso em ir de ônibus… antes resolvi procurar através do famigerado Google, onde comprar uma mochila com preço de quem sabe que 2016 será uma parada duríssima. Joguei a palavra “mochila“ na busca, mas dada a habitual preguiça de um domingo, digitei somente 04 letras: m,o,c,h. Pronto… azedou meu final de tarde. Lembrei-me imediatamente do apelido do João Vacari Neto, conhecido como moch, pelo hábito constante de utilizar mochilas, personagem detido também na Lava Jato.

Desisti de Cabreuva… porém a mania foi voltando, voltando e de repente pensei…  E Ângela Merkel? Não, não, esta é muito durona … ninguém ousaria chamá-la de polaca, numa referência às suas origens. Até porque sua “folha corrida” é de assustar. Na escola, aprendeu a falar russo fluentemente, e foi premiada por sua proficiência nesta difícil língua e também em Matemática. Merkel foi educada em Templin e na Universidade de Leipzig, estudando física de 1973 a 1978. Pô, não dá para brincar com uma pessoa dessas… afinal uma presidente com um montão de cursos no currículo, não é qualquer uma.

Acalmei-me e decidi espantar de vez esta mania, seguindo adiante em leituras mais amenas… pensei em fazer uma viagem e conhecer as praias do Nordeste, sugestão que uma querida amiga recém- falecida sempre me dizia.

É isso aí (refleti comigo mesmo)! Entrei no Google e cliquei “Ceará”.

Enquanto assistia um episódio de Friends e fazendo a busca simultaneamente olhando a bela Rachel com o chatíssimo Ross (este cara não é para ela!), meus pensamentos vagavam já sonhando com Fortaleza e, desapercebida e desgraçadamente se abre um texto no meu primeiro clique: “Carlos Alexandre de Souza Rocha, conhecido como Ceará, declarou à Polícia Federal que teria entregue R$ 300 mil para o senador Aécio Neves”.

Caro leitor, desisti novamente da viagem e voltei meus pensamentos ao trabalho.

Vocês venceram! Apelido de gente importante (ou dita importante) é um perigo mesmo. Será que quanto mais importante o cidadão, mais perigoso se mostra conforme o seu apelido?

Pelas barbas de Netuno! Estou ficando velho mesmo e cheio de cismas …

Autor: Roberto Mangraviti

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Escrito por Roberto Mangraviti

Economista e Facility Manager em Sustentabilidade. Editor, diretor e apresentador do Programa Sustentahabilidade pela WEBTV. Palestrante, Moderador de Seminários Internacionais de Eficiência Energética, Consultor da ADASP- Associação dos Distribuidores e Atacadistas do Estado de São Paulo e colunista do site do Instituto de Engenharia de São Paulo.

Comments

  1. Bom dia, Roberto!
    Diverti-me muito lendo seu texto! Estava a procura de textos/artigos quanto a apelidos no endereço de e-mail, mas pra mostrar minha afilhada que não é adequado e que não é implicância minha…rs
    Tenho 31 anos e me considero ainda como uma geração Y..mas me enxerguei também preconceituosa..rs
    Me encuca esses apelidos serem aceitos com naturalidade no âmbito profissional.
    Me pego sempre questionando isso.
    Imagine meu apelido profissional “Alininha/Mineirinha Aguiar”. Credibilidade Zero…rs
    Vou acompanhar sempre seus textos!
    Abraços,

    • Boa Noite Aline. Desculpe-me a demora em responder-lhe. Fico muito feliz que tenha gostado do texto e confesso que não tenho tido tempo de escrever com a frequência devida, dada a responsabilidade de olhar e planejar o conteúdo do Portal. Fique a vontade para pautar novos conteúdos aos nossos colunistas(eu incluso) e gostamos de “ouvir” sugestões e críticas, não necessariamente elogiosas, pois o Portal é feito para informar e discutir uma nova sociedade. Mais uma vez THANK YOU!

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