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A mulher e o álcool, do prazer ao estigma.

A Mulher e o Álcool

É muito gratificante ver a evolução social e cultural da mulher que saiu da condição de submissão para um papel social mais digno, mostrando que capacidade, habilidade, responsabilidade independe de sexo biológico, gênero ou orientação sexual. A conquista de direitos e deveres é condição sine qua non ao Ser Humano.

Como tudo na vida, há sempre duas vertentes (ou mais) para cada situação apresentada e esta não poderia ser diferente.  A questão de alguns hábitos que até então eram percebidos como pertencentes ao padrão masculino, foram sendo assimilados e introjetados pelas mulheres, como por exemplo o consumo de álcool.  Hoje é muito comum ver um grupo de mulheres em volta de uma mesa repleta de latinhas de cerveja no habitual happy hour. 

Embora possamos falar na igualdade de comportamentos (mentiras, agressividade, dissimulação), o mesmo não se vê nas consequências de tais hábitos. Como já vimos nos dois últimos artigos ‘A Imagem da Mulher na Dependência Química’, os riscos à saúde da mulher são maiores em função de sua estrutura biológica. O organismo feminino é muito mais vulnerável aos efeitos que o álcool produz.

Alguns estudos sobre o consumo de álcool nas Américas feito pela Organização Panamericana da Saúde (regional da OMS) mostram que:

  • A frequência de BPE (beber pesado episódico) aumentou de 4,6% para 13% nos últimos 5 anos, entre as mulheres;
  • A proporção de mulheres que apresenta algum transtorno por uso de álcool é de 3,2%, sendo que 1,8% apresentam diagnóstico de dependência;
  • No Brasil, o padrão BPE esteve presente em 11% das mulheres que consomem álcool;
  • O maior consumo de bebidas alcoólicas entre mulheres esteve relacionado a maior grau de instrução e melhores condições econômicas.

Levantamento realizado pela INPAD (Instituto Nacional de Políticas Públicas do Álcool e Outras Drogas) da UNIFESP mostra que em 2006, 29% das mulheres faziam uso de bebida alcoólica frequentemente. Em 2013 já tínhamos a marca de 39%.

Anorexia Alcoólica

Segundo a Dra. Tahany Gadalla (Professora assistente da Faculdade de Trabalhos Sociais da Universidade de Toronto, Canadá) os transtornos relacionados ao uso do álcool podem estar associados aos riscos de transtornos alimentares.

Hoje, muitas mulheres em busca do corpo perfeito, estão fazendo uso de bebidas alcoólicas em substituição aos alimentos. Este é o perfil de quem sofre Anorexia Alcoólica ou Drunkorexia (drunk em inglês = bêbado + termo anorexia). Este, não é um termo médico oficial e não representa uma síndrome específica. Na verdade são duas morbidades concomitantes que trazem um enorme risco à saúde da mulher.  Isso acontece porque o álcool dá uma sensação de saciedade e ao mesmo tempo abranda a angústia do não poder comer.

Quebra de Paradigmas

Não é fácil quebrar paradigmas e a mulher ainda luta por um lugar ao sol. Luta principalmente para ‘desconstruir’ o estereótipo de mãe (“mãe imaculada”), de dona de casa (“rainha do lar”). Aquela de quem todos esperam (e cobram) proteção, preparo da alimentação, manutenção da higiene, direcionamento religioso, aquisição de valores morais, etc.

Todas essas responsabilidades têm um peso maior quando entra em cena a dependência de substâncias.  Não se vê mais o ser humano, não se percebe a doença. Aponta-se o dedo para ‘aquela’ mulher que não está cumprindo adequadamente o que é esperado pela sociedade (papel enfraquecido).

Vem a culpa, a rejeição, a frustração por essa inaptidão. Por isso muitas mulheres deixam de buscar ajuda específica, deixando a dependência em segundo plano e dando foco para tratar a comorbidade (depressão, pânico, bipolaridade) ou outros aspectos como o abandono da família, a incapacitação financeira.  O estigma, o preconceito, passam a fazer parte da vida. Ela passa a ser vista como uma mulher promíscua, sem vergonha, egoísta por não zelar pelo bem estar dos demais familiares.

Em resumo: a preocupação não se volta para o ser humano mulher, mas para o caos que se cria a sua volta, no meio familiar, profissional e social.

É uma questão bastante preocupante em vista dos números que a estatística nos traz. Já percebemos que essa doença (dependência por substâncias) é bem democrática. Os diversos segmentos da sociedade precisam ter acesso às informações, debater claramente o assunto para que as políticas públicas possam alcançar verdadeiramente os resultados que beneficiem o indivíduo; seja ele homem ou mulher.

Vamos dizer “NÃO’ ao preconceito.

Texto: Maria Cristina Lopes e Veronica Salete

SAIBA MAIS:

www.alcoolismo.com.br

Artigo: “Drunkorexia – Quando o Álcool é Usado para Emagrecer”

CISA – Centro de Informações sobre Saúde e Álcool

Artigo: “Associação entre Alcoolismo e transtornos Alimentares

Rádio Boa Nova

Programa Recuperação de 14/10/2017

Drogadição da Mulher

 

Outros Artigos das Autoras:

A vulnerabilidade da mulher e a Dependência Química – Parte 2

O que você acha?

Comments

    • Olá Rafael. Agradecemos seus comentários.

      A constatação é de um estudo do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas e de outras instituições ligadas à pesquisa sobre dependência do álcool e outras drogas.

      A educação proporcionou maior independência e oportunidades para assumir posições mais bem remuneradas. A mulher passou a socializar-se mais e a beber mais. Também passou a ter filhos com mais idade, e não ter essa responsabilidade permite à mulher uma vida social mais agitada.

      Maria Cristina Lopes e Verônica Salete

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