Em julho de 1994 , estive no Hospital do Câncer em São Paulo, para um exame de rotina, que fazia semestralmente. Ao adentrar no saguão, deparei-me com busto de bronze do grande Ayrton Senna, que havia falecido, fazia 60 dias. A dor da perda ainda ardia na alma dos brasileiros e na minha. Surpreendi-me com a estátua, pois havia estado em outras oportunidades naquele local, e nunca havia notado tão emocionante homenagem. Soube naquele momento, que o nosso campeão, exemplo de brasilidade, fazia rotineiramente vultosas contribuições financeiras à entidade, mas pedia sigilo de seu ato. Guardo na alma passados 25 anos, aquela emoção sentida, pois o tomógrafo que investigaria meu interior físico, era um presente da grande alma de Ayrton, de certa forma, pra mim.
Contudo, em vista do trágico acidente, a Direção do Hospital, não tinha mais motivo para manter em sigilo o gesto de caridade do eterno campeão.
Mais adiante, há cerva de 15 anos talvez, soube através de um depoimento de Chico Xavier, que Hebe Camargo, nas madrugadas frias de São Paulo, também de forma anônima, distribuía cobertores e alimentos aos necessitados.
E aquele venerando homem, exemplo de caridade, quis destacar a generosidade e o caráter da artista, que também se mantinha no anonimato, assim como Senna, e tantos outros cidadãos, efetivamente construtores de uma Nação.
A partir destes exemplos, comecei a formar opinião e observar sobre o caráter das pessoas verdadeiramente superiores, que no exercício da caridade e humildade, constroem suas jornadas com ações, sempre que possível, no anonimato.
Algumas são famosas, outras não, assim como alguns amigos, que da mesma forma, comportam-se com este perfil de dignidade.
Isto posto, nunca me enganei com os arroubos de amor exacerbado aos pobres, especialmente dos políticos deste século, pois JAMAIS foram vistos nestas situações com a “mão na massa”.
O leitor poderá questionar este articulista, “ora, sendo o anonimato a condição essencial, como seriam vistos ? ”.
Não se enganem … estes políticos, como verdadeiros “papagaios de pirata”, não perderiam a oportunidade de “parecer” bons moços para plateia, tanto que em eleições comem pastéis na feira e beijam criancinhas as pencas, de 04 em 04 anos. E depois ?
As cenas de caridade verdadeira, não foram registradas, simplesmente, PORQUE NÃO ACONTECERAM !
Pessoas que juram amor aos pobres de forma rasgada, possuem este solo raso de terra batida, exemplificado pelo ato da deputada Benedita de Silva,a, onde somente plantas de raízes curtas e áridas sobrevivem, em meio aos pedregulhos.
Estes sentimentos, são plausíveis e verdadeiros dela pelo encarcerado na Policia Federal, em Curitiba, justificando lagrimas honestas, e pranto inegável, gritado a pleno pulmões … “Lula eu te amo”.
E naturalmente na alma do “reverenciado”, por reciprocidade, também sobrevive o mesmo sentimento por sinergia das partes.
Fica claro portanto, que neste campo da “agricultura da alma” das pessoas que declaram publicamente estes “amores”, há somente um tipo de terra, com as composições químicas “adequadas” para florescer aquele “tipo” de arbusto.
Por isso que se torna IMPOSSÍVEL, estas pessoas chorarem verdadeiramente, por pobres, necessitados, ou até pela morte de uma esposa.
O “calcário” e outros agentes químicos, somente se prestam para aquele “tipo de árvore de sentimento”, onde a vaidade é o adubo largamente utilizado.
Talvez pela beleza natural do Brasil …clima tropical… educação… enfim, os cidadãos brasileiros, em geral, se mostram despreparados, para reconhecer esses tipos de árvores que cultivam, em seus jardins da vida.
E sendo assim, aquelas cenas de “preocupações “ destes políticos com os pobres, representam a mais profunda falsidade, ao olhar mais atento e experiente.
Na verdade as cenas mais alinhadas com a “verdade interior”, são aquelas rotineiras nos carrões de luxo, onde os “falsos humildes” se regozijam com o luxo, deixando escapar sorrisinhos incontroláveis, típico dos perdulários, exalando o hálito da alma, pelos cantos da boca.
Por vezes, há até escárnio, quando se deixam fotografar com guardanapos na cabeça, em cenas ridículas, em restaurantes de luxo no exterior, ou em jatinhos de empreiteiros.
Portanto, a nossa gente brasileira, precisa muito evoluir, na avaliação das pessoas e dos caminhos da sociedade que queremos construir.
O debate é sempre saudável, pois através da diversidade de valores, poderemos justamente conhecer mais e mais, sobre as pessoas.
Mas, os cidadãos que se comprometem a “protestar” defecando em público, ou promovendo arruaças, ou ainda interditando ruas e avenidas, estão em sintonia com um “tipo” de terra, agricultável para este tipo de gente.
Enfim, a Nação por se construir, precisa menos “lindbergs farias” … e valorizar mais Ayrton Senna.
Muito menos “gleises e beneditas” e reverenciar muita mais Irmã Dulce, para o correto direcionamento construtivo de uma sociedade que busca evoluir.
Texto: Roberto Mangraviti
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