Como ficará a imprensa tradicional, após as eleições ?
A desconfiança gerada nos dois lados da disputa , fez com que leitores de jornais impressos, sites, emissoras de tv abertas ou fechadas, enfim os gigantes da comunicação do Brasil, tenham desnudado um possível cenário tenebroso no futuro da comunicação no Brasil, como ocorre em todas partes do mundo (*).
O descrédito destas marcas, por utilizarem uma linha editorial ambígua, desacreditando organizações centenárias diante da sociedade, obrigarão estas empresas a recolherem cacos obtidos por divulgarem notícias com ares “verdade inquestionável” … e que não se confirmaram na sequência dos fatos.
Claro que o calor das emoções cegam as pessoas (leitores) tornando-as irracionais, mas em termos de mercado, a questão que se coloca é muito simples … passado este momento, as coisas voltarão ao normal?
O espaço perdido diante dos leitores será recuperado?
Formadores de opiniões de sites pequenos e blogueiros preencherão este vácuo existente, já no presente ?
Analisemos alguns fatos que nitidamente se apresentaram.
O primeiro cenário desmantelado : imaginar que seria possível existir uma imprensa isenta.
Este sonho utópico, desmoronou de vez ( se é que algum dia esteve em pé), e se mostra agora inatingível, expondo as marcas a situações até vexatórias.
Como exemplo desta nova realidade, citamos a jornalista Maria Beltrão da Globo News que disparou uma tolice com precisão intelectual rasteira, perguntando ao governador eleito do Rio de Janeiro: “Vamos imaginar o seguinte cenário … um cidadão está com um fuzil, de costas … e existe a possibilidade de um sniper executá-lo sem que ele (o bandido) esteja representando nenhuma ameaça”.
Ok, é possível que num programa ao vivo , uma linha de raciocínio seja colocada de forma infeliz gerando uma interpretação equivocada.
Mas dos 5 jornalistas presentes, nenhum deles procurou readequar a questão, e tampouco a interlocutora procurou nos dias subsequentes ajustar eventual novo direcionamento.
Logo se conclui que era isto mesmo que os presentes interpretam… alguém que porta um fuzil, poderá fazê-lo normalmente e até estar com boas intenções sem representar portanto
risco social, mesmo sendo um DELITO GRAVE no campo do direito penal, portar um fuzil.
Para que nos serve jornalistas com esta “sensibilidade “ ?
O que pensa a emissora a respeito ?
Nadica de nada em explicações.
Tampouco antes das eleições a postura era mais transparente, parecendo sempre que por trás da notícia, existiam mensagens subliminares.
Houve isenção de propósitos da mídia?
Se houve, ninguém achou, nem de um lado e nem do outro!
No último dia 21 de outubro, o “Fantástico” nos 15 minutos iniciais do programa, não havia feito nenhuma referência ou chamada de abertura sobre as passeatas que chacoalharam o Brasil de
Norte a Sul, reunindo especialmente uma multidão na Av. Paulista, em São Paulo, superior as “Diretas já”.
Por sinal a postura da Globo, foi a mesma naquela oportunidade, escondendo um movimento que tomava conta das ruas nos anos 80.
Pior ainda.. a emissora abriu a revista dominical com uma matéria sobre o perigo das crianças que estão armadas, numa clara alusão crítica a postura de Bolsonaro em liberar armas.
Pessoas medianas, somente com o “ tico e teco” funcionando no cérebro, perceberam isso., e desancaram a emissora nas redes sociais.
Para piorar a situação, no caso da Globo, os 56% dos eleitores que elegeram Bolsonaro, assim como os 44% de Haddad, não confiam na linha editorial da emissora, cabendo a estes últimos classificá-la ainda como “golpista”. Todo mundo descontente.
E onde fomos buscar “informações” sobre os movimentos populares daquele domingo?
Basicamente no Facebook , entre nossos”amigos”.
As pessoas clramente procuraram nas Redes Sociais, “parceiros confiáveis” para saber na realidade o que se passava (independente se isso clareou as ideias).
A própria eleição de Bolsonaro, sem utilizar a TV e mergulhando fundo no Whatts App sinaliza a nova dinâmica da comunicação, onde grupos formados, ou pré-estabelecidos de segmento demercado, são alcançados muito rapidamente e com maior profundidade.
E neste vácuo de comunicação, surgem blogs e movimentos claramente alinhados com um lado ou com o outro, que a princípio manter-se-ão facilmente conectados com suas respectivas tribos.
Afinal, o site Brasil 247, totalmente voltado para uma linha esquerdista, tendo Gleise Hoffman entre tantos outras figuras nacionais como colunistas, jamais perderá seus seguidores e terá uma massa que busca ali informação com viés que lhe agrada… verdadeira ou não , mas com um grupo de leitores claramente definido, que facilitará ao anunciante falar com seu público e entender claramente suas demandas e orientar seus serviços.
E a grande mídia ? Terá que definir em que lado se encontra das questões, ou continuará batendo no cravo e na ferradura ao mesmo tempo?
Afinal segundo a Folha de São Paulo de 24 de setembro, cerca de trinta dias antes de Bolsonaro avançar de forma significativa para a vitória final, previu que o agora presidente eleito, perderia inclusive para Geraldo Alckmin, que obteve nanicos 4,76% da preferência do eleitorado.
Será possível uma previsão tão estranha, não abalar a imagem do jornal de maior circulação do Brasil, ficar “impune” diante dos consumidores, pois na pratica o Cabo Daciolo, um ilustre desconhecido, obteve imensos 1/3 de votos de um Geraldo Alckmin?
Possivelmente, doravante informações de negócios, cultura, esporte, poderão encontrar maior ressonância, em espaços exclusivos de sites, como tem ocorrido, por serem desvinculados de suspeitas de interesses políticos.
O futuro dirá … mas o marketing de conteúdo das empresas ou de sites de associações, poderão ganhar um espaço irrecuperável no tempo de pesquisa e busca de informação clara por parte de leitores desses novos tempos.
Enquanto isso os gigantes nacionais da comunicação, terão que reprogramar seus interesses e conteúdos, pois a confiança da população está muito abalada…e talvez de forma irrecuperável!
E o mais irônico , a propaganda da Petrobras que aparece no site da Folha anunciando de forma ambígua, soa em sinergia com uma possível fake news “Antes de falar era preciso fazer” .
Texto: Roberto Mangraviti
contato@sustentahabilidade.com.br
(*) Segundo o site Meio & Mensagem , o The New York Times em 2016 ganhou no digital 583 mil assinaturas e subiu 5% em publicidade, mas caiu 15% no impresso
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