Hoje a China é o dínamo da economia do mundo, sendo responsável pela metade do consumo de cimento do planeta, 35% entre carvão e aço e com possibilidades de ultrapassar o PIB dos EUA, ainda em 2014.
Claro que isto não faz da China o maior país do planeta pelas questões de distribuição de renda, ente outras.
Os asiáticos, que absorveram grande parte da produção industrial dos EUA a partir dos anos 80, padecem de um mal crônico : questões ambientais.
Em Pequim, como em outras metrópoles daquele país, vez por outra, industrias são obrigadas a suspender suas atividades por dias consecutivos, em razão da poluição do ar muito acima de níveis permitidos, além do solo e a água apresentarem índices de contaminação alarmantes. Na capital chinesa em 2014 foram autuadas 652 empresas com U$$ 2,3 milhões de multas aplicadas.
Teria sido possível à China, dar um salto quantitativo no PIB com a mesma velocidade, respeitando o meio ambiente?
A resposta é muito complexa, porém é nítido que os EUA fizeram uma escolha, focando a construção da riqueza em serviços e tecnologia, pois além do valor agregado, estes produtos causam reduzidos danos ao meio ambiente.
Num país democrático, estas questões ganham maior relevância, impactando inclusive no valor das ações de empresas no índice Dow Jones.
A situação chinesa está nos ensinado que despreocupar-se com a questão ambiental é um equívoco que custa caro e este panorama deveria ser um alerta especial aos empresários brasileiros.
Contudo a gestão ambiental ainda não tocou no espírito do empresariado, talvez dada a pouca relevância do próprio consumidor brasileiro a estas questões, na maioria dos casos, ou porque nenhum grande centro urbano brasileiro vive a dramática situação observada em Pequim e em outras cidades.
No campo econômico, o Brasil possuí uma renda per capita 30% superior a China, além de sermos auto suficientes em alimentos. Nossa concentração humana tampouco devasta recursos com o mesmo impacto, pois não chegamos a 20% da população daquele pais. Sendo assim vivemos uma condição menos alarmante, que nos desobriga ao crescimento médio chinês de 2 dígitos.
Mesmo assim, algumas empresas brasileiras estão crescendo no ritmo dos asiáticos porém através de práticas sustentáveis.
Recente pesquisa da ONG – Conservação Internacional, mostrou os ganhos da Monsanto e da Natura na produção de soja e dendê aliada a proteção ambiental.
O valor ambiental total da produção ( que exclui os impactos ao ambiente e a sociedade ) mostrou-se 200% superior que na versão “business as usual” , ou seja sem o custo final da degradação chinesa. Logo é viável e lógico incrementarmos estas escolhas o mais rápido possível nas empresas.
Contudo empresas que buscam a sustentabilidade devem considerar três momentos diferentes nesta jornada: inovação, investimento e propagação.
A fase inicial, inovação, é uma escolha cultural, portanto precede a fase de investimento.
A segunda fase, investimento, é o momento da inserção no budget quando a questão cultural direcionou as escolhas estratégicas, especialmente no campo da tecnologia. É o momento claramente mais difícil, quando os resultados ainda não são visíveis e se concentram no porvir. A última fase, propagação, é o momento onde a empresa colhe frutos internos (eficiência na produção) e externos (reputação na marca).
Nos casos acima citados, especialmente a Natura, navega neste mar, onde o investimento em sustentabilidade ficará ao longo do tempo, cada vez menor em relação a produção, podendo portanto acionar menos o motor investimento e utilizar mais o vento da travessia.
Sendo assim, algumas empresas brasileiras estão colhendo bons frutos ao focarem as questões econômicas e ambientais de forma convergente.
Outras contudo poderão correr o risco das empresas chinesas que enxergaram o binômio crescimento/meio ambiente de forma divergente e terão de iniciar um processo de recuperação gradativo e custoso.
Portanto, se torna imperioso no campo econômico a decisão de como fazer a empresas crescer, no campo ambiental.
E talvez no futuro próximo olharemos as empresas em quadrantes comportamentais, com risco de utilizarmos uma certa tábua da moral econômico-ambiental, algo que nos induza a pensar “Diga-me como sua empresa andas e te direi quem és” .
ROBERTO MANGRAVITI
Economista, Consultor de Sustentabilidade da ADASP-Associação dos Distribuidores e Atacadistas do Estado de São Paulo, Editor do Portal sustentahabilidade.com.br, Diretor e Apresentador do Programa SustentaHabilidade pela Flix-TV, Colunista do Instituto de Engenharia de São Paulo.