A palavra “investidor” no Brasil e na América Latina, por questões político partidárias, é lançada muitas vezes na vala comum da interpretação pejorativa, classificando estes agentes econômicos como inescrupulosos e outras tolices mais.
O termômetro desta associação infeliz funciona da seguinte forma: quanto mais “chavista” o modelo administrativo (sinônimo de administração pública desastrada) mais inversamente o investidor é um frio lesa pátria.
Nesta escala de sentimentos febris temos, numa ponta deste raciocínio cínico, a conhecida Escola Kirchner com 41° de temperatura. No meio da tabela, o Brasil com 37,1° ( a chamada febrícola onde ninguém acredita que o paciente já esteja com febre) e na outra ponta, o modelo norte-americano com 36°,onde o corpo apresenta temperatura adequada.
Em mercados com temperatura sadias, o papel do investidor é o de catalisador dos interesses sociais, que encarado de forma objetiva significa: um agente econômico que põe dinheiro onde espera que dará dinheiro também. Simples assim.
E é nesses mercados, que a “maldita” palavra investidor vem recebendo neologismos agregados a conceitos de responsabilidade social. E até em Wall Street, a meca do capitalismo, está sendo grafada de forma curiosa: investidor ativista. Interessante perceber esta classificação, justamente no momento que aconteceu a Cúpula da ONU sobre Mudanças Climáticas em Nova York .
Com se percebe, cada vez mais, as questões ligadas a sustentabilidade (vida útil e saudável de uma empresa) estão intimamente ligadas ao investidor e a sua percepção de risco nos negócios.
Nestes locais mais frios, o futuro incerto das empresas ou oscilação das bolsas, não é sinônimo de bazofias, mas aos fatos da administração diária, pública ou privada.
Lá quando se perde dinheiro como na crise de 2008, o motivo é de conhecimento público imediato: os imóveis hipotecados foram supervalorizados. Aqui, em dezembro último, quando a Petrobrás perdeu US$ 13 bilhões de valor de mercado, num único dia, ouviu-se de tudo: especulação do mercado, investidor inescrupuloso etc. Uma Pasedena depois e outra Abreu Lima também, as prisões aí estão para comprovar aquilo que o investidor já sabia : péssima administração.
Portanto, a condução com qualidade dos investimentos, em qualquer lugar do mundo, é que resulta em bons ou maus dividendos, além, claro, das motivações em apostar as fichas.
Estas escolhas estão por vezes envolvidas ao grau de urgência e muitas vezes, em necessidades ambientais.
A comprovar esta nova realidade, vale citar a declaração do próprio Presidente Obama, que por conta das mortes de abelhas nos EUA e a consequente redução em 40% das colmeias, classificou este fato com prioridade equivalente ao combate ao terrorismo naquele país. Tornou-se uma questão literalmente de guerra.
Dirão alguns que os EUA não assinaram o tratado de Kyoto, sim é verdade. Mas esta questão é muito complexa e no curto prazo representaria possível desaceleração da economia norte americana, que ainda não se recuperou totalmente. Contudo vale destacar que, os EUA investem seis vezes mais (por hectare) na preservação de suas florestas que o Brasil. E por aqui, o nosso telhado de vidro ambiental, permite que as queimadas/desmatamento da Floresta Amazônica, gerem a maior emissão, made in brazil, de gases efeito estufa, três vezes superior que a nossa indústria, transportes etc.
Todavia, se assinatura do tratado de Kyoto se mostrou inviável aos EUA naquele momento (1997) e até posteriormente em outros acordos, a última reunião da Cúpula sobre Mudanças Climáticas em Nova York, num momento de tanto ativismo, lançou esperanças ao invés de fumaça no ar.
O jornal O Estado de São Paulo, www.estadao.com.br, destacou que a família Rockfeller, que construiu sua riqueza explorando petróleo(Standart Oil), está destinando US$ 860 milhões através do Rockfeller Brothers Fund , para energias menos poluentes.
A atitude é decorrente da pressão popular orientada pelo “investidor ativista”. Não há aqui nenhuma atitude de eco-chatos ou de promessas vazias do tipo, “salvem as florestas num sei da aonde” ou o “bicho-sicrano”. É uma exigência atual de mercado. That’s it !
Esta tendência tem se mostrado consistente a ponto das Universidades de Stanford e Yale estarem redirecionando posturas. Especialmente Yale onde a direção solicitou a seus administradores que examinem a relação entre seus investimentos e as mudanças climáticas, visando evitar proximidade de empresas pouco responsáveis. Desta forma estas universidades terão que avaliar se as fontes de investimentos (doações privadas), são de empresas poluidoras ou não, sob risco de problemas operacionais no campus.
Enquanto isso no hemisfério sul o Pré Sal avança, com seus US$ 400 bilhões de investimento até 2020. No caminho inverso da lógica, não ratificamos o documento da ONU “desmatamento zero” por desconhecimento prévio oficial (que seria justificável), mas não apresentamos outra proposta, que é injustificável, afinal somos signatários de Kyoto.
Em contra partida, no hemisfério norte aqueles “capitalistas selvagens” vão fazendo a lição de casa. O fundo Hesta Australia está se desfazendo das ações ligadas a exploração de carvão(*). Um outro fundo, a Pension Danmark, já investiu US$ 26 bilhões em energias renováveis, ou seja mais que o governo brasileiro.
Soma-se estas boas notícias, a Declaração de Nova York sobre as Florestas, onde os países ricos comprometeram-se em investir US$ 200 bilhões até 2015 em países que pratiquem o desmatamento zero (acordo não referendado pelo Brasil).
Paremos portanto com cinismo. O que se sabe, é que investidor põe dinheiro aonde dá dinheiro, e até aí não há novidades. Contudo países comprometidos de fato com a sociedade (incluso especialmente acionistas e investidores), estão anos luz a frente nas questões que envolvem saúde pública, ensino e principalmente meio ambiente.
Nos mercados com compromissos sócios empresariais atualizados, permeando a indústria, fundo de pensões e até universidades, sopra a esperança, que o velho e tradicional investidor é que dará as cartas neste jogo ambiental, agora com outro nome: investidor ativista.
Resta saber se estaremos nos próximos anos, no Brasil, encarando os investidores na visão bolivariana de lesa pátria, ou de ativista social.
Façam suas apostas.
Em tempo: o Governo brasileiro irá sacar R$ 3,5 bilhões do Fundo Soberano para fechar as contas. Não precisa ser adivinho para imaginar como que a Standard & Poor’s, Mood’s e investidores em geral, pensarão sobre o Brasil nas próximas avaliações de risco.
(*) a princípio, a venda das ações não está vinculada ao gás Xisto.
Roberto Mangraviti
Economista, Consultor de Sustentabilidade da ADASP-Associação dos Distribuidores e Atacadistas do Estado de São Paulo, Colunista do Instituto de Engenharia de São Paulo, Editor do Portal sustentahabilidade.com.br, Diretor e Apresentador do Programa SustentaHabilidade transmitido pela FLIXTV.