Os efeitos das atividades humanas sobre o meio ambiente, a natureza, ainda tem aspectos
imprevisíveis. Se nas regiões urbanas e as áreas agrícolas, ocupadas há muito tempo pelas
atividades humanas, quase não restam vestígios dos ecossistemas naturais, mesmo assim o
mundo natural continua influenciando as modernas sociedades. Há alguns anos cientistas já
vinham alertando sobre novos tipos de vírus que o homem poderia encontrar ao avançar sobre
as últimas áreas inóspitas do planeta, como as florestas situadas em áreas tropicais.
Segundo matéria publicada recentemente no jornal The New York Times, grande parte das
doenças que afetam os seres humanos têm causas ambientais; 60% são de origem zoonótica,
ou seja, transmitidas por animais. Destas, mais de dois terços por animais selvagens.
Exemplo disso são as síndromes provocadas pelo vírus Ebola, pelo Oeste do Nilo, a Síndrome
Respiratória Grave (SARS), a gripe aviária H5N1, a influenza H1N1, entre outros. São
inúmeras as doenças viróticas que em têm origem nas espécies selvagens e que sofrendo
mutações passam de uma espécie a outra até chegar ao homem.
O assunto é tão sério, que veterinários, biólogos e outros especialistas juntaram-se a
médicos e epidemiologistas para tentar descobrir como a interação do ambiente natural com
o humano pode resultar em novas doenças epidêmicas. O estudo faz parte de um projeto
batizado de “Predict” (“prever” em inglês), financiado pela Agência dos Estados Unidos para
o Desenvolvimento Internacional. Neste estudo, os especialistas tentam descobrir como
através da alteração do ambiente – seja pela derrubada da floresta para uma nova área
agrícola ou construção de uma barragem –, colocando pessoas em contato com novos tipos
de vírus, pode-se desenvolver-se uma doença desconhecida. O passo seguinte é localizar
a moléstia quando surge, antes que se espalhe. Em seu trabalho os pesquisadores estão
reunindo sangue, saliva e outras amostras de animais selvagens, a fim de criar um banco de
espécies de vírus. Assim, quando uma destas cepas de microorganismos infectarem seres
humanos, podem rapidamente ser identificados e combatidos. Além disso, os cientistas estão
desenvolvendo técnicas de gestão de florestas, animais selvagens e gado, de modo a prevenir
que doenças deixem a área florestal e se transformem na próxima pandemia.
Os cientistas já identificaram vários casos de transmissão de doenças de espécies selvagens
para domesticadas, chegando aos humanos. Na Ásia, por exemplo, um vírus que tem como
hospedeiro um tipo de morcego frutífero foi transmitido a uma criação de porcos – os morcegos
deixaram cair frutos infectados pelo vírus e estes foram comidos pelos suínos. Posteriormente,
a carne de porco foi consumida e o vírus terminou por infectar seres humanos. O fato, ocorrido
na Malásia em 1999, teve como resultado a infecção de 276 pessoas, das quais 106 morreram
de complicações no sistema neurológico, causadas pelo vírus. Desde então apareceram doze
casos parecidos no sul da Ásia e outros na Austrália.
“Qualquer nova doença nos últimos 30 ou 40 anos surgiu como resultado da ocupação de
áreas selvagens e mudanças na demografia”, afirma Peter Daszak um ecologista dedicado
ao estudo de doenças. Eventos como estes também podem ocorrer nas vastas áreas ainda
inexploradas do Brasil, onde vivem inúmeros microorganismos ainda desconhecidos.
Ricardo Ernesto Rose, jornalista, graduado em filosofia, pós-graduado em gestão ambiental e sociologia. Atua
desde 1992 nos setores de meio ambiente e energia, na área de marketing de tecnologias.
É diretor de meio ambiente da Câmara Brasil-Alemanha e editor do blog “Da natureza e da