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R O M A R I A

Romaria

Numa dessas madrugadas de insônia, quando as preocupações tomam assento no lugar do sono, busquei como de hábito, a voz celestial de Enya para dormir.

Munido do fone de ouvido no celular, fui escolhendo a playlist adequada, quando me deparei com uma reportagem do Globo Rural, com Renato Teixeira sobre a canção Romaria.  O excelente repórter José Hamilton Ribeiro, visita os pontos históricos da trilha da canção, onde o autor magistralmente desenha o percurso em nossa mente.
“Romaria” se encontra entre as 20 canções, mais regravadas da história da musica brasileira, tendo na voz da inigualável Elis Regina, a lembrança afetiva que marcou a “largada” da trajetória desse hino, que segue agora com viés religioso, com vida própria, independente do autor e de seus intérpretes.
Mas foi na voz de Maria Rita, filha de Elis, que Renato confessa viver a maior emoção.
Na belíssima entrevista, Maria Rita confessa de forma emocionada que tem a impressão que a musica está com ela “desde sempre, como um inconsciente coletivo”.
E engasga a voz ao dizer “eu sempre tive uma relação muito difícil…” (hi…uma lágrima…segundos ) … e a cantora completa “com Deus, que tira a mãe de uma criançaessa musica me aproxima dessa relação com a fé”, explica a interprete, com um timbre na voz, que nos remete à própria Elis.
É surpreendente como Renato Teixeira fez uma oração de fato, através da musica, compondo uma “trilha mental” ao ser entoada, para quem deseja seguir numa caminhada de elevação espiritual.
A canção expressa uma espécie “romaria mental”, sem termos que seguir até a cidade de Pirapora ou de Aparecida do Norte.
Construída numa cadência melódica de um mantra, as pessoas entoam a canção num formato diferenciado, de quem busca uma conexão com Deus, mesmo que estejam num show com 50.000 pessoas que buscam diversão e descontração para a mente, como no show que Maria Rita homenageia Elis.
Mas diante das primeiras notas de introdução do acordeom, todos se posicionam de forma respeitosa, como se estivessem numa Igreja, para rezar através do cântico.
E quando o show é conduzido por Renato, que faz o gesto das mãos que simbolizam Nossa Senhora, o público começa a cantar numa atitude profundamente religiosa da fé Universal, aquela que transporta montanhas …e o show se transforma literalmente numa oração.
Fica notório que a conexão com a fé deve ser vivida, seguindo experimentações tão singulares, que ninguém consegue explicar, mas simplesmente sentir.
As palavras de Maria Rita ao dizer “eu sempre tive uma relação muito difícil com Deus” retrata um sentimento absolutamente comum, vividos com maior ou menor intensidade … quando não, com maior ou menor frequência, pelos 107 bilhões de seres humano que passaram pelo Planeta desde 50.000 anos antes de Cristo.
O estrofe da canção “Eu não sei nem rezar”, nos dá a sensação que a música de fato, nos “empresta” esse caminho, para quem não encontra forças ou palavras em determinadas situações.
“Investi , desisti, mas se há sorte, eu não sei, nunca vi … me disseram, porém, que eu viesse aqui, pra pedir de romaria e prece”
ESPETACULAR .
Sabemos que a fé robusta confere a perseverança, a energia e os recursos necessários para a vitória sobre os obstáculos, tanto nas pequenas quanto nas grandes coisas.
Mas é necessário diferenciar a fé da presunção.
Pois, a verdadeira fé se alia à humildade, e aquele que a possui deposita a sua confiança em Deus, mais do quem em si mesmo, retrato comum na atitude dos romeiros e daqueles que visitam locais de Fé, como Lourdes ou Aparecida do Norte.
E assim o autor de “Romaria”, de forma mágica ,“explica” a Fé, que é um sentimento único, onde cada qual, roga ou suplica, conforme o próprio estado emocional.
“Como eu não sei rezar, só queria mostrar, meu olhar, meu olhar, meu olhar”.
Precisa o autor explicar mais?
Há quem conteste a eficácia da prece, com fundamento no princípio de que, conhecendo Deus as nossas necessidades, desnecessário se torna pedir.
Ora, se esse raciocínio tivesse lógica, seríamos simples “marionetes” nas mãos de Deus, onde o livre arbítrio de escolher nossos caminhos, (preferencialmente em direção ao bem) não teriam a menor importância.
Restaria sentarmo-nos nas calçadas em frente das casas, e substituiríamos os estrofes de “Romaria” por “deixe a vida me levar “.
Contudo Renato Teixeira nos dá uma aula de fé, dizendo que somente basta “olhar… olhar… olhar”.
Confesso que já pensei muitas vezes em “furar” a fila numa prece, afinal todos os dias , os quase 8 bilhões de terráqueos, em algum momento, devem tentar pedir as coisas.
Será que a “central telefônica” não fica sobrecarregada?
Nas minhas reflexões imaginei em que vez de “pedir”, poderíamos elevar o pensamento em “agradecer”, que convenhamos, deve possuir linhas muito menos “sobrecarregadas”, podendo assim sermos, atendidos, quem sabe, de imediato.
Afinal, Deus deve deixar um ou outro “atendente” por dia, se tanto, do “departamento de agradecimento”, que seriam controlados pelos nossos anjos da guarda.
Então começo agradecendo… vou agradecendo …agradecendo , e de mansinho resolvo mudar um pouquinho a trajetória do pensamento, mas imediatamente o “atendente” transfere para os ramais de “pedidos”, que é uma espécie de reclamação do consumidor, que está sempre super congestionado, caindo a linha depois de longa espera.
Minha transgressão, não “colou”.
Enfim, parece que nos cabe aguardar que Deus nos conceda, confiança, coragem, paciência e resignação, diante da Vida, enquanto nossos pedidos estão sendo “analisados” na “Central de Pedidos”.
Provavelmente isto não significa necessariamente que estejam, enviando uma “solução” do problema, de imediato, que as vezes me parece que requer análises mais profundas antes do desfecho do “case”.
Enquanto isso, talvez o jeito mais fácil, seja assoviar “Romaria” , para quem não sabe rezar e tampouco cantar a canção, que certamente estará daqui centenas de anos, cumprindo seu papel nas almas de qualquer geração.
Tanto que Renato Teixeira, ouviu do magistral Luiz Gonzaga, um conselho em tom muito sério, meio premonitório, quando o autor de “Asa Branca” lhe disse assim … “toda vez que você for cantar sua musica, cante como se fosse a primeira vez”.
Então encerro agradecendo Renato Teixeira , que “curou” minha última insônia … porque para mim foi como se tivesse ouvido pela primeira vez… e me fez até pensar que “romaria” seria um acrônimo de ” Rogar a Maria” …
Será?


Valeu Renato!
ROBERTO MANGRAVITI

www.robertomangraviti.com.br
Colunista da ADASP-Associação dos Distribuidores e Atacadistas do Estado de São Paulo; do Instituto de Engenharia; Editor do Portal SustentaHabilidade, da Coluna “SustentaHabilidade” no Jornal ABC Repórter, e apresentador do Programa SustentaHabilidade na Rede NGT (digital) e Soul TV Omni Channel (smarts Tv’s LG e Samsung). 

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Escrito por Roberto Mangraviti

Economista e Facility Manager em Sustentabilidade. Editor, diretor e apresentador do Programa Sustentahabilidade pela WEBTV. Palestrante, Moderador de Seminários Internacionais de Eficiência Energética, Consultor da ADASP- Associação dos Distribuidores e Atacadistas do Estado de São Paulo e colunista do site do Instituto de Engenharia de São Paulo.

Roberto Mangraviti

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