Em tempos de pibinhoe inflação fora do eixo da meta, o agronegócio é por vezes associadoa esses problemas, além de ser responsável outras tantas vezes pelo desmatamento, seja para pecuária ou para agricultura.
Fundamentalportantodestacar alguns números que auxiliam na construção desse quadro de forma correta e verdadeira, lançando luz sobre um cenário real que nos afasta de uma visão estereotipada dos fatos.
Inicialmente, a variação das commodities nos últimos 60 anos surpreende, conforme recente pesquisa da Folha de São Paulo. Os alimentos tiveram uma variação negativa de 25% em dólar, contra um crescimento, no mesmo período, paras commodities energéticas e minerais de 1000% e 100%, respectivamente.
Ou seja: inflação, pelo menos no Brasil no que tange aos itens acima expostos, tem nome e endereço: energia.
Já na construção do PIB do Brasil,em 1994 o agronegócio representava26,4% (*) da riqueza produzida e deverá atingir em 2013 algo em torno de 22%. Conclui-se portanto que esse setor continua a contribuir decididamente na geração de empregos e renda, além de trazer significativos resultados na balança comercial, com substancial ingresso de dólares, principalmente nestes tempos recentes de evasão de divisas. Em 2012, por exemplo,apresentamos um superávit de US$ 79 bilhões, apesar dos imensos problemas de infraestrutura.
Sendo assim, pode-se concluir que as perdas de eficiência decorrentes de infraestrutura arcaica e obsoleta no transporte e armazenagem, são compensadas pelos ganhos de produtividade, pois cada vez se produz mais consumindo menos.Vale destacar também que o desmatamento para atender as questões de mercado consumidor em expansão nos últimos anos são percentualmente decrescentes. A média histórica é de uma cabeça por hectare, porém em Paragominas (PA) alguns fazendeiros possuem 1220 cabeças em 560 hectares, cerca de 4 vezes mais eficientes portanto. Em suma, o rebanho nacional que em 2011 já superava 200 milhões de cabeças ocupa cada vez menos espaço proporcionalmente. Além do mais,a cobertura vegetal naturalem nossas terrasainda apresenta um percentual de proteção superior aos países chamados desenvolvidos e/ou em desenvolvimento, no período pós-guerra. Em 1950EUA, Alemanha e França possuíam cobertura vegetal que variava de 20 a 30% de seus territórios, cabendo ao Reino Unido e a China índices de apenas9%, contra incríveis 74% do Brasil naquela oportunidade. Claro que muito desmatamento ocorreu em nosso território de lá pra cá, e o pior, irregularmente, através de criminosas queimadas, que ainda são a maior fonte de emissão de CO2. Mesmo assim, em 2010 o Brasil apresentou 56% de cobertura vegetal, índice superior ao do processo de industrialização no pós-guerra daqueles países.
É lógico que especialmente a pecuária é um modelo que além de gerar desmatamento consome recursos hídricos planetários, pois para produzir um 1kg de manteiga consome–se 18.000 litros de água, ou ainda 17.100 litros para produzir 1 kg de carne(**).
A questão é se queremos abrir mão do nosso modelo de consumo. O agronegócio pode sim consumir menos água e espaço(desmatamento) se mudarmos nossos hábitos e talvez não tão drasticamente como imaginamos, pois a carne de frango por exemplo, exige um consumo de água 5 vezes menor.
Em suma, o agronegócio, não é um mal em si, no aspecto da sustentabilidade, pois tem atendido às constantes necessidades econômicas do pais, sendo na verdade uma consequência das escolhas de modelo econômico que estamos fazendo, especialmente pelos nossos níveis de consumo. Pois , o consumo per capita na China de carne é apenas 10% do volume observado no Brasil, sendo o leite 16%, frango 20% e o açúcar 21%.
A questão é: qual o modelo econômico que queremos para o nosso país e qual a convergência de interesses com o agronegócio, pois se nos contentarmos em consumir carnes no padrão chinês, teremos alternativa de plantar mais alimentos, que gerarão comida farta e barata sem nenhuma necessidade de desmatamento adicional reduzindo ainda mais a inflação como tem ocorrido ao longo dos anos.
Roberto Mangraviti
Economista, Consultor de Estratégias de Sustentabilidade da Trade Marketing.
Consultor da ADASP – Associação dos Distribuidores e Atacadistas/SP.
Colunista do Instituto de Engenharia de São Paulo.
Criador, Produtor e Apresentador do Programa ADASP-Sustentahabilidade, na TV Sorocaba ao Vivo.
Editor do Portal sustentahabilidade.com.br
IE
(*) CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS EM ECONOMIA APLICADA – ESALQ/USP
(**) Sabesp