Recentemente a imprensa noticiou a descoberta de um recife de corais junto à ilha Queimada Grande. A ilha atende também pelo nome de Ilha das Cobras, por ser o lar de uma espécie única de serpente, a jararaca ilhoa (bothrops insularis). O recife tem especial importância para a biologia, por ser a colônia de corais mais ao sul no oceano Atlântico.
A formação coralínea, segundo os pesquisadores, é composta por um única espécie de coral (madracis decactis), e é revestida por grande quantidade de outros organismos; como algas, esponjas e outros tipos de corais. O recife, que tem uma área aproximada de 75 mil metros quadrados e também é o habitat de peixes, moluscos e tartarugas marinhas.
A ilha Queimada Grande tem este nome porque no passado navegadores atearam fogo às suas matas, tentando eliminar as serpentes que a habitavam. Ainda hoje, vivem na ilha cerca de 55 espécimes da jararaca ilhoa por hectare. O desembarque é proibido pela Marinha, mas mesmo assim, são constantes as invasões por traficantes de animais, que chegam a vender cada exemplar do ofídio por 100 mil reais no mercado clandestino. O animal está listado como espécie em perigo de extinção na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza.
A ilha dista cerca de 35 quilômetros dos municípios de Itanhaém e Peruíbe, situados no litoral Sul do estado de São Paulo. As águas ao redor da ilha, com profundidade média de 45 metros, são constantemente visitadas por mergulhadores esportivos e eventuais pescadores. Queimada Grande é uma ilha rochosa, parcialmente coberta por vegetação de restinga, com área de 430 mil metros quadrados e altitude máxima de 206 metros. Não possui fontes de água potável. No passado, até o início do século XX, a ilha era habitada por faroleiros e suas famílias, que com a instalação de faróis automatizados abandonaram a ilha. Devido à sua importância para a preservação do ecossistema e das diversas espécies que o habitam, Queimada Grande faz parte da Área de Proteção Ambiental (APA) Marinha do Litoral Centro, criada em 2008, mas cujo plano de manejo até agora ainda não foi concluído.
Apesar da proximidade do continente e da presença eventual de cientistas, a descoberta do recife de corais foi uma surpresa para pesquisadores e ecologistas. Trata-se da formação coralínea mais austral no oceano Atlântico; está a cerca de 1 mil quilômetros de Abrolhos, que era até agora a formação de corais mais ao sul conhecida no oceano Atlântico. Descoberto em 2015, o recife da Queimada Grande foi mantido em segredo, para evitar eventuais interferências durante as pesquisas científicas.
A descoberta é importante para a preservação dos recursos naturais. Para proteger esta raridade, espera-se, primeiramente, que a partir de agora sejam agilizadas as ações de implantação do plano de manejo desta APA. A segunda providência deve ser a criação marcos legais, que definitivamente impeçam a implantação de projetos de grande impacto ambiental na região. Exemplo disso é o projeto Porto Brasil, de Eike Batista, que previa a construção de um grande atracadouro para escoamento de minérios. Outro, é o plano da construção de uma termelétrica a gás, com capacidade de 1,5 GW, na cidade de Peruíbe, que entre outras obras também incluiria a construção de um porto para navios transportadores de gás, a 10 quilômetros da costa.
Texto: Ricardo E. Rose
Foto: Fernando Moraes/Rede Abrolhos
contato@sustentahabilidade.com.br