Um fato recente bastante importante, passou quase despercebido do grande público e só foi superficialmente noticiado na mídia. Trata-se da redução do buraco na camada de ozônio da atmosfera da Terra. A notícia é bastante auspiciosa e tem um grande significado para todos aqueles preocupados com o impacto das atividades econômicas sobre a natureza.
A camada de ozônio está situada na estratosfera, região da atmosfera terrestre situada entre 25 e 35 mil metros de altitude, e atua como um filtro que elimina 98% da radiação ultravioleta (UV) que vem do Sol. A UV é responsável pelo bronzeamento da pele, mas em quantidades mais concentradas causa queimaduras, catarata, altera o DNA, podendo causar câncer de pele. A cada ano são descobertos entre 2 e 3 milhões de casos de câncer de pele em todo o mundo e a quantidade vem aumentando também no Brasil. Cientistas fazem uma relação entre o crescimento dos casos desta doença com o aumento do buraco na camada de ozônio.
Os principais destruidores do ozônio presente na atmosfera são os gases CFC (clorofluorcarbonos); compostos presentes em aerossóis e na refrigeração de geladeiras, sistemas de ar condicionado, entre outros. Através da luz solar as moléculas de CFC se quebram, liberando o cloro que passa a reagir com o ozônio, eliminando seu efeito filtrante dos raios UV. Assim, com menor quantidade de ozônio presente nas altas camadas da atmosfera, a radiação chega com mais facilidade ao solo, afetando as moléculas que compõem os seres vivos. Resumidamente, substâncias químicas industriais atuando e destruindo substâncias químicas naturais. Era preciso fazer algo.
Identificado o problema os países assinaram um acordo global em 1989, denominado Protocolo de Montreal, que baniu o uso de substâncias à base de CFC em todo o mundo. Como a cadeia produtiva que utilizava o CFC em seus processos era relativamente reduzida, as ações de governos, ONGs e associações de empresas surtiram efeito com relativa rapidez na eliminação do uso do gás poluente. O efeito desta ação positiva é o que estamos começando a perceber. Estudiosa do problema no MIT (Instituto de Tecnologia de Massachussetts), Susan Solomon comentou: “A ciência ajudou mostrando o caminho, os diplomatas, os países e a indústria tiveram uma capacidade incrível de traçar uma estratégia para abandonar o uso dessas moléculas, e agora nós de fato estamos vendo que o planeta melhorou. É maravilhoso.” (Jornal Folha de São Paulo 3/7/2016).
Apesar de ainda haver uma certa confusão entre o buraco na camada de ozônio e o efeito estufa, trata-se de assuntos diferentes. O fenômeno do efeito estufa, aquecendo a atmosfera terrestre, é muito mais complexo e, infelizmente, não é causado só por algumas substâncias químicas que podem ser substituídas por outras em curto espaço de tempo. O efeito estufa é gerado pelo excesso de substâncias químicas formadas pelo elemento básico da vida, presente em quase tudo: o carbono. O processamento de duas substâncias ricas em carbono, o petróleo e o carvão, forma a base de nossa geração de energia, transportes, indústria e agricultura. Outras moléculas ricas em carbono, o metano e o dióxido de carbono (CO²), são expelidos pela maior parte dos seres vivos. Por isso, descarbonizar a economia mundial e reduzir o efeito estufa será muito mais complexo e demorado – mas pode ser possível.
Foto:http://www.ucsusa.org/global_warming/science_and_impacts/science/
Autor: Ricardo Rose
Consultor, jornalista e autor, pós-graduado em gestão ambiental e sociologia. Graduado e pós-graduado em filosofia. Desde 1992 atua nos setores de meio ambiente e energia na área de marketing de tecnologias, trabalhando para instituições internacionais. Atualmente é consultor em inteligência de mercado no setor de sustentabilidade. É editor do blog “Da natureza e da cultura” (www.danaturezaedacultura.blogspot.com). Seu site profissional é: www.ricardorose.com.br