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Hitler e seu padrão de liderança. Alertas e desafios.

Hitler

Há muito tempo adquiri um livro que me fez querer entender melhor porque e como Hitler conseguiu se tornar um dos maiores líderes do mundo atual. Infelizmente, sua liderança foi definida e estabelecida baseada em suas ações recheadas de egocentrismo e que obviamente trouxeram muitas desgraças a sociedade como um todo.

Mas que ele é um líder, isso ele é!

O livro lido na época foi HITLER E CHURCHILL: SEGREDOS DA LIDERANÇA do autor Andrew Roberts. Esse livro me demonstrou o que eu já tinha percepção: Grandes líderes não necessariamente são exímios técnicos, mas sabem que se eles não são, provavelmente seus interlocutores sabem menos ainda sobre determinados assuntos.

O papel do líder não é o de ludibriar, mas se observarmos, grandes líderes são dotados de estratagemas beirando ao show. E sabem que o show bem feito convence.

O líder é líder. E ponto. Cabe aos demais a opção de segui-lo ou não.

Trago aqui uma breve análise do padrão de liderança utilizado por Hitler, pois sendo um hábil líder conseguiu que suas ideias alcançassem padrões que ao avaliarmos atualmente provavelmente não atingiriam seus objetivos.

Mas será que não?

Hitler – da infância à adolescência – O padrão do garoto bom.

Inteligente. Hitler foi considerado ter um QI elevado por boa parte de seus anos na escola. Uma de suas grandes práticas e provavelmente a mais marcante, seus longos e inflados discursos foram treinados e estudados por anos. Hitler era um exímio orador e um exímio articulista.

Biografias de diversos historiadores demonstram uma figura que em muitas vezes pode ser considerada fraco e com tendências à covardia. Ao avaliarmos sua estrutura familiar, notamos um menino muito atormentado pela figura paterna e totalmente dependente psicologicamente pela figura materna.

Sua família era de classe média, mas sua vida em termos financeiros era confortável para o padrão da época. Seu pai era um homem de pouca sensibilidade, com elevado teor de irritabilidade, sádico e tirano. Era incompreensível e exigente, descrito, pelo próprio filho, como “um beberrão”.

Sua mãe era submissa, masoquista, superprotetora e ansiosa. Sofreu diversos abortos espontâneos antes do nascimento de Hitler e ainda enterrou o irmão mais novo de Hitler com apenas seis anos de idade.

Mas o pequeno Hitler não era um menino mal daqueles que você pretende encontrar em filmes de terror. Hitler era educado, solícito e tinha gosto pelas artes. Em sua adolescência discutia sobre política, não admitia promiscuidades, honrava seus pais e tinha verdadeiro apreço pela arquitetura. E gostava de ópera, principalmente Wagner.

A adolescência foi marcada pela morte de seu pai, o que para Hitler não causou grandes efeitos, visto que biografias específicas acerca do tema, demonstram claramente seu ódio e inclusive torcida para que seu pai os deixasse.

Avaliando sua estrutura de forma rasa, parece uma pessoa comum. Mas suas avaliações mais profundas e psicológicas demonstram um alto índice de psicopatia.

Hitler é uma figura mundial. Seu maior objetivo, desde a adolescência foi ser conhecido mundialmente. Seus sonhos beiravam o megalomaníaco.

Num perfil psicológico de Hitler, traçado pelo psicanalista americano Walter C. Langer, a pedido do chefe da OSS, agência americana que precedeu a CIA, o ditador é classificado como “um psicopata neurótico” (ROLAND, 2010; FEST, 2005; KERSHAW, 2010).

Seu nível de psicopatia era tão elevado que ainda muito novo Hitler acreditava ser protegido por uma providência divina. Tinha certeza de que se tratava de um ser especial e por esse motivo deveria ter total e absoluta atenção da mãe. Quando seu irmão faleceu teve certeza que havia sido uma providência divina cujo objetivo era a justiça, visto que sua mãe agora somente daria atenção a seu único filho.

Mas sua mãe tinha sua parcela de culpa: Como sua mãe passou por diversos abortos, quando o feto conseguiu desenvolver-se sem maiores complicações, os cuidados foram redobrados. Ao nascer, portanto, Hitler passou a ser visto pela mãe como a criança esperada, que preencheria suas expectativas de maternidade, ou ainda como alguém que merecia todo cuidado para não vir a morrer como seus irmãos que nem chegaram a nascer (ROLAND, 2010).

Mesmo seu pai, um impiedoso homem, intolerante e extremamente rígido, não foi capaz de diminuir o grau de megalomania de seu filho, visto que sua mãe sempre o acobertava para que não houvesse punições oriundas de seu pai.

Seu pai sempre o incentivou a se tornar funcionário público. Mas Hitler era incapaz de aceitar ordens e disciplina. Segundo Beck (2005) um indivíduo com personalidade psicopática acredita “ter direito de quebrar regras”. Além disso, na escola não tinha amigos e era considerado teimoso, solitário e arrogante. Quando precisava conversar, utilizava seus conhecidos mais submissos. Não admitia ser contrariado.

Segundo estudos recentes acerca de sua personalidade, chega-se à conclusão que possivelmente esses dois vieses paradoxais foram igualmente importantes para a formação da personalidade do ainda pequeno Hitler: De um lado, os carinhos da mãe, seus cuidados e superproteção lavavam o menino a sentir-se forte, especial e valoroso. Isto o levaria a pensar que poderia fazer qualquer coisa que seria acobertado pela genitora. Tal fato, associado ao conhecimento dos abortos anteriores que possivelmente eram comentados no ambiente familiar, fez o menino desenvolver a crença de que ele era forte, autônomo, privilegiado, diferente dos demais irmãos. Isto poderia fazer-lhe pensar que algo o protegia e que ele deveria ser melhor do que os outros. Em contrapartida, as atitudes brutais do pai e a humilhação constante através de surras rotineiras contribuíram de forma ímpar a sua personalidade psicopática.

Contribuindo ao histórico de seus pais em relação ao filho, Hitler viu por diversas vezes cenas de abuso sexual por parte do pai em relação a sua mãe. Inclusive seu irmão foi concebido em uma dessas ocasiões. Esse fato pode tercontribuído para que Hitler obtivesse características de apatia em relação ao outro. Em sua cabeça o irmão era fruto de um ato vil e só existia com a finalidade de roubar o amor materno.

Outra obra muito importante que diz respeito a essa figura tão cheia de reverses psicológicos é Hitler, de Ian Kershaw, publicado pela Companhia das Letras.

Nesse livro podemos observar seu senso de grandeza: Adolf Hitler tentaria entrar na Academia de Belas Artes de Viena, mas segundo ele, seus talentos não foram apoiados por aquela escola. Mas Hitler não assumia um defeito latente: a preguiça, tanto para o estudo quanto para o trabalho. Adolf Hitler passava os dias no ócio, em praças, fazendo seus desenhos e discursando sua grandeza aos amigos. Com essa vida de ócio, após poucos meses da morte de sua mãe, ele já estava morando nas ruas.

A ascensão de Adolf Hitler tem suas raízes não apenas nas circunstâncias históricas do período – em particular, a derrota da Alemanha na Primeira Guerra Mundial e a depressão econômica do início da década de 1930 – como também na forma de sua liderança. E é este aspecto do fenômeno Hitler que torna sua história tão relevante para nossas vidas hoje.

 

Hitler: o líder de uma nação

Em outro livro, O colecionador de lágrimas, um romance escrito por um grande historiador brasileiro, Augusto Cury, me deparei com as artimanhas de liderança do Führer.

Hitler não somente elevou a Alemanha, inflando-a como administrou seu reinado com verdadeira sede de poder e glória. Para ele eliminar raças e indivíduos tidos como inferiores era somente mais uma maneira de alcançar seus objetivos. Na realidade, boa parte do povo alemão já se consideravaacima e judeus e franceses eram motivos de piada e humilhações pela população.

A população de maneira geral não aceitava homossexuais. Temas como direitos das mulheres não eram discutidos. Prostitutas e a parte da população mais carente e com menor poder aquisitivo eram discriminados pelos próprios alemães.

A sociedade estava contaminada por ódio e soberba. A autora Ângela Mendes de Almeida em sua obra “A República de Weimar e a Ascensão do Nazismo” (1987, p. 9-21), apresenta os fatores do pós Primeira Guerra Mundial que desencadearam na grande crise. Nessa obra ela explicita que tudo iniciou-se com a derrota da Alemanha para os Aliados na Primeira Guerra Mundial. A Primeira Guerra Mundial (1914-1918) terminou com a proclamação da República de Weimar que pôs fim ao império alemão. Mas com o fim da guerra e a rendição da Alemanha, alguns países ainda queriam ir à forra sobre os vencidos e empobrecidos germânicos. A historiadora Ruth Henig cita o desejo de vingança dos franceses como um dos principais fatores para a severidade das medidas de pós-guerra, a derrota na Guerra Franco-Prussiana (1870-1871) ainda era sentida pela França que agora enxergava uma oportunidade de devolver as humilhações do passado recente.

No final, Hitler somente se tornou Hitler porque a sociedade quis assim.

Numa Alemanha derrotada e humilhada, com tendências a um total espirito de elevação, ter perdido a guerra para a França (entendam que nesse momento os franceses estavam longe da elegância injetada em filmes de Wood Allen e cunhavam em sua moeda o ódio ao país vizinho), significou muito mais do que ter perdido sua dignidade.

A Alemanha empobreceu. E isso é um fato!

E nisso Hitler se fortaleceu. Ele não sabia de economia, mas tinha clara certeza que a sociedade alemã sabia muito menos que ele. Sabia também que se soubesse o que falar, como falar e para quem falar, suas ideias chegariam aos ouvidos mais importantes e influentes.

Hitler era carismático. E não era o político padrão, daquele que promete menos impostos, saúde e educação. Ele se fazia quase um líder de um templo, prometendo salvação a e redenção aos jovens. Se posicionava como se fosse o escolhido.

A primeira guerra mundial o desenvolveu: fazia discursos para o povo após a derrota e fazia com que sua derrota parecesse qualidade. Se aproveitava do ódio que milhares de alemães sentiam devido as humilhações do Tratado de Versalhese criava sua figura dramática e caricata. Era a salvação personificada da grande Alemanha.

Era tão habilidoso, que devido a sua arrogância, Hitler não admitia debates, mas conseguia passar a seus devotos que sua falta de talento para debates era apenas um sinal de caráter. Também possuía asco a ligações com outras pessoas, mas habilmente fazia com que sua almejada solidão fosse considerada a marca de um homem cuja a inteligência gerava axiomas constantes.

Outro ponto fatal a sua trajetória é o fato de Hitler saber se conectar a seu público. Hitler sabia falar, mas principalmente sabia como falar. Seu povo não somente o escutava como tomava suas frases como práticas morais. Seus discursos beiravam a hipnose. Sabia como poucos se apropriar de gritos e aclamações. Mesmo com sua voz estridente, sabia postá-la de forma a causar comoção.

Mas ainda assim, o padrão econômico foi fator fundamental a sua ascensão. Antes da economia cair pelas tamancas, Hitler não era muito conhecido. Com a economia ruim, Hitler alcançou o posto de chanceler da Alemanha, líder do partido político mais popular do país.

Sua participação na economia fez com que Hitler fosse considerado por muitos seguidores como o portador da salvação. E ele sabia se aproveitar e se conectar com seu povo.

As ideias passadas por Hitler a sua nação em muitos casos não foram criadas por ele. A própria ideia de superioridade da raça ariana foi considerada a primeira vez por conde Gobineau em 1855, no início do Golpe de Estado de Napoleão Bonaparte na França e difundida desde então para muitos países europeus. Hitler cresceu no meio ao ódio. Sim. A sociedade alemã contava piadas e histórias de má estirpe sobre judeus nos jantares e festas. Como podemos observar e já dito anteriormente, todas as ideias que em geral foram erroneamente colocadas como criações de Hitler foram no máximo citações apropriadas e reeditadas de sentimentos já existentes e encalacrados a uma sociedade doente.

Esse líder nato, não somente se apropriou de ideias já existentes, como se apropriou de sentimentos latentes da sociedade e isso fica muito claro ao lermos o livro Vinho & Guerra – Os Franceses, os Nazistas e a Batalha Pelo Maior Tesouro da França (Kladstrup, Don; Kladstrup, Petie; ed. Zahar 2002), onde demonstra como os alemães ao invadirem a França, ao invés de capitalizarem os vinhos franceses como tesouros de guerra, sabendo da importância moral dos vinhos aos franceses, simplesmente quebravam suas valorosas garrafas no meio da rua.

Obviamente, nem todos os alemães concordavam com as posições da maioria da sociedade. Mas os que não concordavam eram considerados traidores e que mereceriam a morte pois não seriam merecedores das graças obtidas.

Seus meios de propaganda faziam com que cada vez mais jovens se alistassem e tivessem prazer em caçar as “raças inferiores” bem como os traidores da nação.

Seus métodos de tortura eram estudados e testados. Um dos episódios que mais me marcou durante meus anos de pesquisa sobre o tema, foi quando li que Hitler criou uma propaganda para os judeus, onde informava que os eles mudariam de cidade, na época apenas devastada pela fome e que iriam ganhar novas casas e um lugar à sua altura para morarem. TODOS FORAM. Sem pestanejar, sem desconfiarem que não estavam recebendo um apoio financeiro do chanceler, mas sim indo diretamente para câmaras de gás. Eles foram encaminhados a morte de livre e espontânea vontade.

Esse era o padrão Hitler de liderança: Aos olhos despreparados, ele era o salvador de todos, o predestinado por Deus, o que se preocupava com seu povo. Mas para olhos mais atentos, um psicopata sádico, megalomaníaco, dotado de inteligência e completamente desprendido de amor ao próximo.

Os “Hitleres” da atualidade

Hitler se apropriou de ideias e sensações já existentes. Fez com que milhões de alemães acreditassem que eram “especiais”, criando uma conexão quase cósmica com seus interlocutores.

Sabe aquele líder que faz questão de deixar claro que é da raça a, da classe econômica b e da região c. Que para ganhar a eleição diz que o outro é seu oposto, como se somente suas características tivessem mérito? Aquele que vem na propaganda e diz para o povo o quanto o povo é importante pelo simples fato de ser igual a ele? Pois é. Padrão Hitler.

Esse tipo de novos “Hitleres” tem por padrão a promiscuidade com as instâncias governamentais, o alto impacto das mídias e a necessidade constante de falar para o povo. Fala do povo para o povo. Hitler não escondeu do eleitorado seu ódio, seu desprezo pela democracia ou sua crença no uso da violência para alcançar objetivos políticos. Falava contra inimigos, definidos cuidadosamente, como comunistas e judeus. Os de hoje, mantem o padrão. Definem o que a maioria odeia e alavancam esse ódio a um estado quase que animalesco. Incentiva a guerra entre classes, entre raças, entre sexo. Incentiva de modo mais discreto. Mas incentiva. Dá nome aos bois.

A maioria dos alemães comuns não se encaixava nesses grupos e, desde que essa maioria abraçasse o novo mundo nazista, o alemão comum estava relativamente livre de perseguições. Atualmente a maioria da população também não se encaixa nos padrões desse tipo de liderança, entretanto, de alguma maneira acaba apoiando um ou outro lado. Todos os seres humanos são tendenciosos. Alguns mais outro menos. Mas para um líder hitleriano, é só questão do marketing certo para agregar mais militantes ao seu templo.

Essa história é importante para nós hoje. Não apenas porque nos oferece “lições”, mas porque a História contém avisos. Um líder hitleriano tem carisma, se conecta com seus medos, esperanças e possui um desejo latente de culpar os outros pela situação difícil que viviam. Fiquem atentos!

Texto: Camila Gagliardi
contato@sustentahabilidade.com.br

 

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Escrito por Camila Gagliardi

Mestra em Saúde Ambiental, com enfase em Nanotecnologia. MBA em Gestão Estratégica de Negócios. MBA em Gestão Financeira Controladoria e Auditoria. Especialização em Gestão de Projetos de Arquitetura. Especialista em Auditoria, Controladoria e Finanças. Experiência nas áreas de Economia, Gestão, Arquitetura e Engenharia.

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