Atualmente, não há mais dúvidas para a ciência de que o homem, o homo sapiens, vem alterando o ambiente em que vive há centenas de milênios. À medida que a tecnologia se desenvolvia – desde as ferramentas de corte feitas de pedra e o domínio do fogo até a invenção do arco- , o impacto do homem sobre o ambiente foi gradativamente aumentando. No entanto foi com a Revolução Cognitiva, período a partir do qual houve um acelerado desenvolvimento da cultura (tecnologia, religião, arte), ocorrida há cerca de 50 mil anos, que o sapiens consolidou sua posição no topo da cadeia alimentar dos diversos biomas que habitava.
A primeira incursão humana para um mundo fora dos continentes africano e eurasiano se deu há aproximadamente 45 mil anos. O historiador israelense Yuval Noah Harari, em sua obra “Sapiens – Uma breve história da humanidade” relata a ocupação da Austrália por humanos vindos de ilhas da Indonésia. Logo depois disso, dados arqueológicos dão conta do rápido desparecimento de diversas espécies de animais, num ritmo além do natural. Cangurus imensos de 200 quilos e dois metros de altura, coalas gigantes, leões marsupiais do tamanho de um tigre moderno, lagartos de 7 metros e até 600 quilos; o diprotodonte, ancestral do vombate que tinha três metros de comprimento e o genyorni, ave carnívora com dois metros e pesando 230 quilos. Todos extintos. Harari diz em seu texto: “Em alguns milhares de anos, virtualmente todos estes gigantes desapareceram. Das 24 espécies animais australianas pesando 50 quilos ou mais, 23 foram extintas.” Também há muitos indícios fósseis de grandes queimadas efetuadas pelos primitivos habitantes da ilha, provavelmente para o abate simultâneo de manadas de animais. O eucalipto, raro há 45 mil anos, espalhou-se por todo o continente australiano, pois é muito resistente ao fogo, diferentemente de outras árvores e arbusto que desapareceram.
Estudo recentemente publicado na revista “Nature Plants” mostra o impacto das populações humanas, há milhares de anos, em zonas florestais como Sri Lanka, Nova Guiné, Austrália, México e Amazônia brasileira. Em entrevista ao jornal Folha de São Paulo o representante do instituto Max Planck, realizador do estudo, informou que a queima da vegetação era realizada de maneira controlada, de modo a criar áreas abertas, propícias ao crescimento de certas plantas comestíveis e à presença de certos animais. O que de maneira geral a pesquisa indica, é que essas populações, através da experiência, já dominavam técnicas de manejo da vegetação e com isso aumentavam suas chances de obter alimentos.
Outro estudo realizado pela Universidade de São Paulo entre 2016 e 2017 também coloca em cheque o conceito de que a floresta amazônica era um ambiente quase intocado até a poucas décadas. A identificação de mais de 400 geoglifos (grandes figuras feitas no solo através da deposição ou remoção de sedimentos) no Acre, atestam a ocupação destas áreas há quatro mil anos, através do manejo da vegetação original. Os pesquisadores descobriram que a mata era substituída por espécies comestíveis, como milho, abóbora e palmeiras.
O impacto ambiental de nossa espécie não se limita aos últimos 200 ou 300 anos, com o aumento da população mundial e o advento da industrialização. A ação do homem em seu ambiente tem relação direta com o desenvolvimento tecnológico das sociedades.
Autor: Ricardo Ernesto Rose
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