Roberto Mangraviti
A vida de São Pedro, é um histórico exemplo, sobre o fator determinante do caráter de alguém… e dos fatos, que muitas vezes são mal interpretados.
A negação de Simão Pedro, diante da prisão de Jesus, é sempre lembrada como uma ato de “fraqueza” do apóstolo, que generaliza equivocadamente o caráter de um mártir diante da sua jornada.
O Evangelho de Marcos, assim relata: Pouco tempo depois, os que estavam sentados ali perto disseram a Pedro: “Certamente você é um deles. Você é galileu!” Ele começou a se amaldiçoar e a jurar: “Não conheço o homem de quem vocês estão falando!”
Vamos procurar trazer este cenário, comparativamente para os dias atuais, para melhor compreensão histórica.
Imagine um grupo de policiais com autoridade de prender quem julgasse necessário e conveniente, podendo agir inclusive com poucos escrúpulos e praticando injustiças.
Já sentimos isso ?
Então … aqueles soldados romanos podiam e estavam autorizados a açoitar, ofender e matar sem preocupar-se se com eventual violência desmedida, diante de uma população oprimida.
Qualquer ser humano “normal” diante deste cenário agiria da seguinte forma: “não conheço este cara”.
Assim funciona o instinto de sobrevivência do ser humano … a primeira reação ao perigo iminente, obviamente é proteger-se .
Contudo a esta atitude de Simão Pedro, conhecida universalmente como uma das 3 negações a Jesus, é a face menos importante na trajetória desse ícone … fundamental para a história da humanidade.
Na verdade, diante da prisão de Jesus, ainda no Monte das Oliveiras, a reação de Pedro, é a que lhe define melhor o caráter : AÇÃO E CORAGEM!
Os evangelhos de Marcos, Mateus e Lucas, citam que “um dos presentes tinha uma espada”.
No de João, a descrição é mais clara , “Simão Pedro, que trazia uma espada, tirou-a e feriu o servo (1) do sumo sacerdote, decepando-lhe a orelha direita”.(2)
Logo conclui-se que, ou Pedro estava andando armado ( em razão do calor dos acontecimentos), ou teria tomado a espada de alguém para defender Jesus.
Ação e coragem no bem maior de outrem, portanto, é a essência perceptível daquele caráter … simples assim.
Qualidades óbvias, de um homem em busca de melhorar-se, que fica evidenciada na morte de Estevão, anos após a crucificação de Jesus, momento em que Pedro permaneceu 3 dias preso e açoitado, escapando da morte, por intervenção de um anjo.
Mesmo assim seguiu na sua fé e convicções, após esta dura experiência na sua primeira prisão, que resultou numa segunda, culminando com sua crucificação. Crucificação, recebida de forma branda, a ponto de solicitar aos seus algozes que ficasse de cabeça para baixo, para não assemelhar-se a Jesus de maneira nenhuma.
Mas o que as pessoas em geral, recordam no caráter de Pedro, é o ato da negação, naquele cenário que era totalmente adverso, com a prisão de Jesus já ocorrida, em detrimento ao caráter digno do apóstolo, ratificado pelo excepcional legado histórico deixado.
Assim se comporta em geral a sociedade brasileira, tendo desenvolvido um péssimo hábito diante dos fatos, históricos ou não, dispensando olhar o que é fundamental analisar para fixar-se no periférico, ou naquilo que lhe interessa destacar incorretamente.
Este comportamento é visto, quer seja, na cor do cabelo do Neymar (como se isso qualificasse a técnica ou empenho do jogador), quer seja no comportamento ou atos de figuras públicas do país e do mundo, para assuntos efetivamente fundamentais.
Há sempre muitoooooooo calor e pouca luz na análise dos fatos e emissão de opiniões, em geral precipitadas.
Esquecem que é a luz que clareia a cena, e não o calor, que afinal somente define a sensação exterior, “esquentando o ambiente”, mas jamais clareando o interior.
Por isso que as pessoas mal sabem que a energia elétrica fotovoltaica (solar), é produzida a partir da luz e não do calor, numa metáfora perfeita sobre produção de energia limpa, até no pensamento.
Se avaliarmos estas negações de fatos claros e fatores fundamentais, que permeiam a sociedade nacional, temos nos tempos atuais, o exemplo da postura de ex- presidente Lula, diante do juiz Marcelo Bretas, no Rio de Janeiro.
Arguindo Lula como testemunha de defesa, no julgamento do meliante Sérgio Cabral, com mais de 120 anos de prisão decretada, pergunta o juiz (que não estava se portando como um Herodes), se o ex-presidente é amigo do ex-governador, também presidiário.
E, apesar das centenas de vídeos que mostram uma relação de amizade e respeito mútuo, a resposta com uma frieza glacial, num ambiente com ar condicionado a 22 graus e aparelho de TV na cela, é muito edificante … Lula declara que não é amigo do réu, mesmo que esses vídeos lancem uma luz desconcertante nos fatos.
Este tem sido o olhar e o comportamento dos brasileiros, diante das cenas preocupantes nacionais, onde o fator determinante do caráter dos personagens, é pouco, ou nada importante.
Para essas pessoas, o que infelizmente “importa”, é o calor das palavras sem ações, em contraponto ao desprezo à luz e dos fatos.
Afinal o fundamental no debate, é o quanto o cabelo de Neymar é determinante, diante dos resultados.
E não quanto alguém se empenha para melhorar na sua jornada, seja um jogador esforçado, um frentista de posto ou balconista.
Dessa forma, quem desfila palavras bonitas desassociadas da ação verdadeira e honesta, escapa muito bem, obrigado, utilizando-se da mentira e da cara de pau para enganar e prevaricar.
Enquanto isso, São Pedro, Simão Pedro, ou simplesmente Pedro, segue negando Jesus 3 vezes, ao invés de construtor de uma sociedade correta, na visão de muitos cegos.
À cada um de nós, cabe a pergunta, quantas vezes negamos ao dia, “ a Verdade e a Vida” ?
À outros pergunta-se, estariam negando o fator determinante do Caráter …e dos Fatos … e o quê mais ?
Texto: Roberto Mangraviti
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(1)O nome daquele servo era Malco
(2)João 18:10,11
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