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Poluição veicular pode causar câncer

Apesar de todas as evidências apresentadas pela ciência, ainda existem pessoas – os chamados “céticos do clima” – que duvidam da existência das mudanças climáticas e negam que as atividades humanas, emitindo CO² e outros gases, estejam contribuindo para o aquecimento da atmosfera. No fundo, estes críticos estão prestando um serviço à ciência, já que esta precisa constantemente ser colocada em dúvida, para que apresente argumentos mais fortes e convincentes. Por outro lado, os céticos do clima prestam um desserviço à causa ambiental, já que acabam dando força aos argumentos daqueles que provocam ou que ganham com as emissões de gases de efeito estufa, como os grandes derrubadores de florestas, a indústria do petróleo, o setor de energia no hemisfério Norte, entre outros.

As emissões de gases, no entanto, existem e podem ser comprovadas por qualquer morador da região metropolitana de São Paulo, por exemplo. Paira sobre nós uma nuvem cinza, resultado da queima de combustível dos cerca de nove milhões de veículos que diariamente circulam nesta região. Por sorte e por razões históricas e técnicas, ainda geramos pouca eletricidade queimando carvão ou óleo combustível nas termelétricas, caso contrário a poluição atmosférica nas regiões metropolitanas brasileiras seria pior do que já é.

Mesmo assim a poluição que já temos – seja da queima de gasolina, etanol ou diesel – é suficiente para gerar bastante preocupação. Em recente estudo realizado pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT), foi constatado que o DNA humano – nosso código genético – pode ser alterado com a presença de dois aldeídos: o acetaldeído e o crotonaldeído. Estas substâncias são encontradas na fumaça do cigarro – condenado há muito tempo como causador de câncer – e nas emissões veiculares. Segundo a professora do Instituto de Química da USP (IQUSP) e pesquisadora do INCT, Marisa Helena Gennari de Medeiros, ao entrar em contato com o organismo humano os aldeídos se ligam à estrutura da molécula de DNA, modificando-a. O corpo humano possui enzimas que removem o DNA modificado. No entanto, caso ocorra que este DNA alterado não seja eliminado, pode aparecer uma mutação genética e desta resultar um câncer.

Em 2010 a pesquisadora fez uma coleta de amostras de urina de 82 pessoas – 47 residentes na cidade de São Paulo e 35 residindo em São João da Boa Vista, no interior do estado. Os resultados demonstraram que a concentração de adutos (resultado da reação do DNA com os aldeídos) foi muito maior nas amostras coletadas na capital. A pesquisa, que excluiu pessoas fumantes, demonstrou o quanto a poluição gerada por emissões veiculares concretamente afeta a saúde humana.

A indústria química farmacêutica e outras áreas de pesquisa conhecem o “princípio da precaução”: se não sabemos o efeito de uma substância sobre a saúde humana, ou se existe a mínima possibilidade de que possa causar algum mal, cabe evitar seu uso – ou mantê-la sob rigoroso controle. No caso das emissões veiculares não seria o caso de diminuí-las, através de um programa de regional de monitoramento dos veículos, como já o faz a cidade de São Paulo, além de investimentos em transporte público moderno e menos poluente? O povo está mais do que cansado de mais do mesmo na administração pública.

Ricardo Ernesto Rose consultor e jornalista, graduado em filosofia e pós-graduado em gestão ambiental e sociologia. Desde 1992 atua nos setores de meio ambiente e energia na área de marketing de tecnologias, trabalhando para instituições internacionais. É autor de quatro livros sobre meio ambiente e sustentabilidade e editor do blog “Da natureza e da cultura” (www.danaturezaedacultura.blogspot.com).

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Escrito por Ricardo Rose

Ricardo Ernesto Rose, jornalista, graduado em filosofia e pós-graduado em gestão ambiental e sociologia. Desde 1992 atua nos setores de meio ambiente e energia na área de marketing de tecnologias.

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