Resiliência é a capacidade que os ecossistemas possuem de voltar à sua forma original. Um trecho de mata atlântica, uma área de mangue ou cerrado podem recuperar sua flora e fauna originais ao longo dos anos. A capacidade de resiliência, no entanto, é mais ou menos limitada. Dependendo do grau de destruição de um ecossistema, este pode não mais restaurar sua variedade de plantas e animais à sua forma original. Recentemente, cientistas observaram que áreas florestais aparentemente recuperadas depois de desmatamento, apresentavam uma diversidade vegetal menor do que a floresta original. A tendência é que o mesmo aconteça com a fauna, já que em processos de destruição ou poluição de habitats e dizimação de espécies, a posterior recuperação da cadeia alimentar não é mais completa. Assim, na falta de um produtor acabam desaparecendo também seus predadores.
Este processo de destruição de biomas, habitats e ecossistemas está ocorrendo em todo o mundo. O crescimento populacional, aliado à constante expansão das áreas agrícolas, está destruindo o tênue equilíbrio que ainda resta no “ecossistema Terra” (a famosa hipótese de Gaia, do ambientalista nonagenário James Lovelock). A tendência é que o acúmulo de resíduos na água e no solo, a poluição atmosférica, a erosão da terra e a destruição da biosfera – originadas na econosfera, a atividade econômica do homem – acabem conduzindo a humanidade a um impasse.
Se por um lado poluímos o planeta, por outro o aumento populacional força-nos a produzir quantidades cada vez maiores de alimentos, destruindo remanescentes de estepes, florestas e outros biomas ainda mais frágeis. O aumento da população também provoca crescimento do consumo, o que requer um uso cada vez maior dos recursos naturais e geração de crescentes volumes de resíduos.
A Terra, mais especificamente os sistemas de seres vivos que compõem a biosfera, tem certamente um limite de resistência (resiliência) à poluição e destruição. Não se conhece ainda este limite. No entanto, sabemos que já utilizamos cerca de 30% além das possibilidades de recuperação do planeta (a famosa “pegada ecológica”) – estamos usando recursos naturais em demasia. Não sabemos por quanto tempo a Terra suportará este processo, mas já temos noção que estamos causando uma das maiores mortandades de espécies na história geológica da Terra.
A humanidade provavelmente desaparecerá junto com a maioria das outras espécies vivas. Morreremos lentamente, até que depois de algumas centenas de anos somente algumas centenas de milhões de humanos poderão sobreviver com o que restou dos ecossistemas da Terra. Uma elite dominará os recursos e as armas e milhões pessoas viverão em um mundo destruído e poluído. Os recursos naturais – principalmente os minérios – serão reutilizados até que chegue o dia em que traremos minerais da Lua ou de Marte – onde por esta época também estaremos estabelecidos com pequenas colônias.
É evidente que nesta descrição existe muita imaginação. No entanto, não acho provável que possamos sobreviver como espécie por muito tempo, com bilhões de bocas para alimentar e um sistema econômico que visa o benefício somente de alguns, ao passo que explora os recursos naturais do planeta. A causa ambiental é moral e parece estar perdida de antemão. O que podemos fazer é postergar ao máximo a data de validade.
Ricardo Rose é jornalista, Graduado em Filosofia e Pós-Graduado em Gestão Ambiental e Sociologia. Atua desde 1992 nos setores de meio ambiente e energia, na área de marketing de tecnologias. Diretor de Meio Ambiente da Câmara Brasil-Alemanha é editor do blog “Da natureza & da cultura” (www.danaturezaedacultura.blogspot.com)