Há alguns anos, quando o presidente dos Estados Unidos Barak Obama assumiu seu primeiro mandato, falou-se muito dos “empregos verdes”; profissões que direta ou indiretamente contribuem para a melhoria do meio ambiente. Aqui no Brasil, na mesma época, revistas e sites ambientais começaram a contabilizar as “carreiras verdes” existentes e aquelas que cresceriam no Brasil. À época, me chamou a atenção a comparação entre as pesquisas brasileiras e as americanas; os tipos de atividade que cada país valorizava. Nos EUA, previa-se a criação de empregos em áreas mais técnicas, tais como: instaladores de painéis solares, jardineiros para hortas comunitárias, especialistas em gestão de depósitos de reciclagem, técnicos de operação de unidades de energia eólica, entre outros. Em relação ao mercado brasileiro, falava-se da criação de cargos de engenheiros de meio ambiente, gestores de ONGs, engenheiros florestais, auditores ambientais, advogados ambientais e vários outros.
Interessante ver a diferença de enfoque das culturas dos dois países. Não que nos EUA (e na Europa) os cargos que demandem mais estudo (graduação, especialização, etc.) não sejam valorizados, ao contrário. Mas não são estes os principais postos de trabalho cuja criação é almejada por uma política de “empregos verdes”. Tal política deve gerar um grande numero de ocupações; principalmente para aqueles com ensino de nível técnico, ou seja, profissionais em maior numero e que devido à remuneração mais baixa não conseguem poupar recursos para épocas de crise (leia-se desemprego). Foi exatamente nestas profissões que a administração Obama, na medida do possível, procurou investir. A necessidade de profissionais de nível técnico no setor de meio ambiente e energia é fato já conhecido há quase duas décadas, também na Alemanha. Os setores de produção e serviços de tecnologia de energia e ambiental não podem sobreviver só com pesquisadores, engenheiros, gestores e consultores, sem que exista uma base de técnicos capacitados, exatamente aqueles que vão operar o sistema todo: os aterros, as estações de tratamento de esgoto, as usinas de compostagem e reciclagem, as instalações de painéis solares, etc.
No Brasil, comparado aos países com mercados mais desenvolvidos, em grande parte a mentalidade ainda é diferente. Talvez porque, como dizem alguns, ainda sejamos um país de bacharéis. Valorizamos demais os títulos e os cargos – mesmo que estes não impliquem em conhecimento ou capacidade de trabalho – e depreciamos a atividade técnica, prática, a “mão na massa”. Esquecemos, por exemplo, que um dos maiores filósofos do século XX, o austríaco Ludwig Wittgenstein, trabalhou parte de sua vida como jardineiro. Que os grandes inventores de implementos, equipamentos e ferramentas do início da Revolução Industrial inglesa, no final do século XVIII, eram em sua maioria artesãos; técnicos que adquiriram conhecimentos através do contato com a prática.
Não se trata aqui de desvalorizar os profissionais de maior formação, aqueles que são essenciais na condução dos sistemas e processos do mercado ambiental e de energia. O que pretendo ressaltar é a importância da capacitação e da valorização dos técnicos; necessários em muito maior número do que os graduados e cuja formação e número ainda não são suficientes para atender à demanda do mercado de “empregos verdes” no Brasil.
Ricardo Rose é jornalista, graduado em filosofia e pós-graduado em gestão ambiental e sociologia. Atua desde 1992 nos setores de meio ambiente e energia, na área de marketing de tecnologias. É diretor de meio ambiente da Câmara Brasil-Alemanha e editor do blog “Da natureza e da cultura” (www.danaturezaedacultura.blogspot.com)