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A morte do ator da Globo … e a falta da caridade.

Quando a morte atinge um ente querido de forma trágica, gera uma incontrolável comoção.

Dirão alguns, seria um ator, um ente querido ? De certa forma sim, pois frequenta nossa casa, com assiduidade maior que nossos parentes sanguíneos. Mais ainda… sentem alguns que este “ente querido” é o  máximo de virtudes, pois misturam em seus  corações as virtudes vividas pelos personagens, como se fossem atributos do ator. Ele (ator) por sua vez, não “conhece” um defeito sequer em nossa conduta, e nem nos critica, em que pese nossa possível conduta  cheia de desvios.

É portanto uma “relação” ou simbiose perfeita, como as redes sociais puderam registrar, onde os internautas choraram uma perda (para eles) irreparável.

Contudo, muitos não entendem como esta relação distante e fictícia, pode desequilibrar a tantas pessoas. E por justamente não entenderem, alguns reagem por vezes agredindo a estas manifestações de “luto”, contra argumentando de que existem “milhares de mortos de fome ou abandonados em hospitais públicos”, sem gerar qualquer sentimento de comoção ou tristeza geral, como produz a morte de um simples ator.

Na verdade, tanto numa postura como noutra, apresentam-se as duas faces de uma  mesma moeda: a falta da caridade …e explicamos porque.

Se considerarmos a premissa de Cristo “fora da caridade não há salvação”  como um axioma (*), pode-se afirmar que de fato as hordas de abandonados em hospitais ou mesmo em vias públicas a espera da morte, são almas desgraçadas, que merecem nosso sentimento de dor. Mas por não serem “rostos conhecidos”, possuírem endereço ou sequer “identidade da alma”, não geram comoção, pois não as “vemos”. E tampouco quem clama em defesa desses desafortunados, são pessoas que estejam organizadas em atividades regulares de caridade, porque se assim estivessem, não estariam trocando farpas pela internet, pois estariam envolvidas em acolher a outrem, sem tempo de polêmicas, pois a exaustiva rotina deste exercício (caridade) apazigua os envolvidos na ação, construindo um respeito social amplo por quem sofre, seja o motivo tido como “justo” (pobres desamparados) ou “ injustos”  (atores e personalidades mortas).

Por sua vez, a parte da sociedade “enlutada” com a perda de “parente ator”, por justamente não estarem capacitadas ao exercício regular da caridade quer seja em orfanatos ou asilos, julgam que estão sendo seres humanos melhores por terem a capacidade de sentir esta dor alheia, turvando seus sentimentos e percepções, pela perda de um irmão de jornada diária, mesmo que seja através da TV.

Portanto a morte de Domingos Montagner, é um momento muito importante para a reflexão do exercício da caridade de forma rotineira, justamente para inserir em cada um de nós, a construção de  um conceito mais generalista  de um corpo social único e homogêneo, onde todas as almas são importantes, globais ou não.

E ainda vale destacar que este exercício da caridade , como ensinou Jesus, não deve ser público, mas feito longe dos olhos da sociedade. E é justamente assim que nos ensina a parábola “Os infortúnios ocultos”, onde uma mãe generosa e de muitas posses, distribui víveres e roupas aos pobres, também travestida de pobre para não humilhar a quem recebe o donativo, e carrega sua filha adolescente para a tarefa de treina-la neste exercício sublime.

Portanto, que a perda lastimável do ator da Globo, incite menos comentários infelizes, tanto de um lado quanto de outro, e mais ação em prol do exercício da caridade de forma rotineira, até porque Domingos Montagner deixa esposa, filhos e amigos de trabalho. E como não estamos capacitados e pouco evoluídos para o enfrentamento da morte, haverá sempre um sentimento de perda, que somente através do ensinamento da caridade poderá ser minimizado, para seguirmos adiante na  construção de  um Planeta mais inteligente e assertivo em sabedoria, sem tempo para questionamentos  infrutíferos de um lado, ou manifestações de dor de outro, que pouco reconstroem a sociedade.

(*)premissa considerada necessariamente evidente e verdadeira, fundamento de uma demonstração, porém ela mesma indemonstrável, originada, segundo a tradição racionalista, de princípios inatos da consciência ou, segundo os empiristas, de generalizações da observação empírica .

Imagem: sistemampa.com.br

Autor: Roberto Mangraviti
contato@sustentahabilidade.com.br

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Escrito por Roberto Mangraviti

Economista e Facility Manager em Sustentabilidade. Editor, diretor e apresentador do Programa Sustentahabilidade pela WEBTV. Palestrante, Moderador de Seminários Internacionais de Eficiência Energética, Consultor da ADASP- Associação dos Distribuidores e Atacadistas do Estado de São Paulo e colunista do site do Instituto de Engenharia de São Paulo.

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