No Brasil, mais de 50% das construções de residências são realizadas pelos proprietários, sem acompanhamento técnico de especialistas. A fiscalização das obras, na maioria das prefeituras, ocorre de maneira incipiente e superficial. Além do aspecto da segurança das estruturas das construções, existe a perda de material, como restos de areia, cimento, cal, tijolos, etc.; materiais que muitas vezes se transformam em entulho descarregado em áreas públicas ou terrenos baldios.
O problema da perda de material no setor de construção também afeta a maior parte das obras realizadas com supervisão técnica. Empreiteiros e construtores de pequeno e médio porte, em sua maioria, ainda não utilizam técnicas de reuso e reciclagem de materiais, além de muitas vezes não disporem corretamente o entulho de obra. Especialistas calculam que 25% dos insumos utilizados pelo setor são perdidos, o que faz com que o metro quadrado construído no Brasil seja relativamente elevado, em comparação com outros mercados equivalentes.
O tema do uso mais eficiente dos recursos no setor da construção não é novo e já faz parte das preocupações das principais instituições ligadas à construção, há pelos menos quinze anos. Grandes empreiteiras, principalmente aquelas atuantes nos grandes centros urbanos, já incorporaram as diretrizes do uso eficiente dos recursos, oferecendo treinamento aos seus funcionários e implantando sistemas de gestão de canteiros de obras, visando controlar, separar e reutilizar materiais e insumos.
Um grande avanço no setor da construção civil foi a criação da Norma de Desempenho de Edificações nº 15.575, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), lançada em abril de 2013. A diretriz estabelece padrões para resistência e durabilidade de estruturas, pisos, coberturas, vedações e sistemas hidrossanitários para construções, proporcionando mais garantias ao comprador do imóvel e exigindo que a construtora utilize materiais, equipamentos e mão de obra de melhor qualidade. A norma representa um importante passo do setor da construção civil em direção à melhor gestão das obras, tornando-as mais eficientes e sustentáveis, reduzindo a perda de materiais.
Outro fato positivo no setor da construção civil é introdução da certificação de construções – os selos verdes – de acordo com normas internacionais de qualidade ambiental. Para receber este selo, as edificações devem atender aspectos como: ter obra realizada de maneira ambientalmente correta (reuso, reciclagem e correta destinação dos materiais, ausência de substâncias tóxicas, uso eficiente de água e energia, entre outros); ter edifícios equipados com sistemas de economia de água e eletricidade, materiais de alta durabilidade; adotar princípios de urbanismo sustentável (calçadas vivas, prioridade para deslocamento de pedestres, arborização, etc.). O Brasil já tem quase 1.000 projetos registrados e certificados no selo LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), ocupando a quarta posição mundial, depois do Canadá, da China e Índia (dados de 2015).
O setor da construção tem forte impacto no uso de recursos naturais, incluindo água e eletricidade. Outro aspecto, é que depois de prontos, os edifícios funcionarão por várias décadas. Por isso é importante que, tanto na fase de construção quanto na de uso, seu impacto ambiental seja reduzido ao mínimo possível.
(*) Ricardo Ernesto Rose
(*) Consultor, jornalista e autor, pós-graduado em gestão ambiental e sociologia. Graduado e pós-graduado em filosofia. Desde 1992 atua nos setores de meio ambiente e energia na área de marketing de tecnologias, trabalhando para instituições internacionais. Atualmente é consultor em inteligência de mercado no setor de sustentabilidade. É editor dos blogues “Da natureza e da cultura” (www.danaturezaedacultura.blogspot.com) e “Considerações oportunas” (www.consideracoes-oportunas.com.br) Seu site profissional é: www.ricardorose.com.br