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Corais, clima e combustível

Um simpósio internacional sobre recifes de corais, contando com a participação de mais de dois mil cientistas, chegou a algumas conclusões preocupantes sobre o futuro deste ecossistema. Reunidos em Queensland, na Austrália, especialistas concluíram que a continuar o ritmo de poluição das águas marinhas, estas imensas colônias de microorganismos poderão desaparecer no espaço de uma geração.

Os recifes de coral têm uma grande importância para a manutenção da vida nos oceanos. Povoados por diversas espécies de organismos; desde os unicelulares, até peixes de todos os tipos, tartarugas e cetáceos, os recifes de coral são considerados ilhas de abundância na paisagem relativamente monótona dos mares. Em suas encostas as espécies vivas se estabelecem para viver, se alimentar e procriar, deslocando-se muitas vezes por centenas de quilômetros para alcançar o recife.

A atividade humana gera substâncias que carregada para o mar alteram as condições químicas do oceano. Efluentes domésticos, industriais e adubos agrícolas estão aumentando o volume de nutrientes nas águas marinhas, dificultando a sobrevivência dos corais. Outro aspecto é que os corais só conseguem sobreviver dentro de uma faixa muito estreita de temperatura (23 a 25 graus); acima ou abaixo destes parâmetros começam a apresentar problemas de crescimento e em casos extremos morrem.

O principal fator de risco para os bancos de corais, no entanto, é causado pelo aumento da acidificação das águas do mar. O processo se dá da seguinte maneira: com nossas atividades econômicas emitimos quantidades cada vez maiores de gás carbônico (CO²) para a atmosfera. Este gás misturando-se à água do mar aumenta sua acidez, o que dificulta a formação de carapaças e estruturas à base de carbonato de cálcio, caso dos esqueletos de corais e moluscos.

Este acontecimento já tem e terá consequências para toda a biodiversidade dos oceanos e atividades econômicas ligadas aos mares. Cientistas preveem que atividades de pesca ligadas aos bancos de corais terão uma queda significativa, afetando milhões de pessoas. Da mesma forma a indústria turística que depende dos recifes nos Estados Unidos, Austrália e Japão, será seriamente afetada.

Fica cada vez mais evidente que o eventual desaparecimento deste rico ecossistema pode ser causado pelas atividades humanas – as emissões atmosféricas geradoras do aquecimento global. É de estranhar, portanto, que em tempos mais recentes tenha aumentado o número de vozes negando a existência das mudanças climáticas, baseado em interpretações de fatos científicos.

Isto dá o que pensar, ainda mais quando um pesquisador de Harvard anunciou recentemente que a era do petróleo não terminou e de que aumentarão as descobertas de novas reservas do combustível. A mensagem que aparentemente se quer transmitir é: a) a humanidade não pode absolutamente influir no clima da Terra; b) a queima de combustíveis não contribui para as mudanças climáticas; e c) como consequência, podemos manter nossa economia baseada na queima dos derivados de petróleo. A quem será que interessa tal mensagem?
Ricardo Ernesto Rose é jornalista, graduado em filosofia, pós-graduado em gestão ambiental e sociologia. Atua desde 1992 no setor de meio ambiente e energia, na área de marketing de tecnologias. É diretor de meio ambiente da Câmara Brasil-Alemanha e editor do blog “Da natureza & da cultura” (www.danaturezaedacultura.blogspot.com).

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Escrito por Ricardo Rose

Ricardo Ernesto Rose, jornalista, graduado em filosofia e pós-graduado em gestão ambiental e sociologia. Desde 1992 atua nos setores de meio ambiente e energia na área de marketing de tecnologias.

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