in ,

Crise econômica, desemprego e meio ambiente

Há vinte ou trinta anos, quando o ritmo de desflorestamento na Amazônia era maior do que hoje, os desmatamentos diminuíam toda vez que a economia entrava em crise. Decrescia o consumo de produtos, minguavam os investimentos em atividades agropecuárias, fazendo com que parte da floresta fosse poupada por mais uma temporada. Nos períodos de pouca atividade econômica diminui o consumo, a produção e a consequente geração de resíduos, tanto industriais quanto domésticos. Menos insumos e matérias primas são utilizados, o que reduz a pressão sobre os recursos naturais. Quando a crise persiste e não ocorre a recuperação econômica de setores, atividades ou regiões, vem a decadência e o abandono da infraestrutura, como ocorreu por exemplo com a Fordlândia, no Pará, as cidades abandonadas de mineradores na Namíbia e as regiões rurais do estado da Virgínia, nos Estados Unidos.

Uma das consequências da crise econômica, o desemprego, também pode ser o indutor de danos ambientais, com consequência consideráveis. No Brasil ainda temos poucas análises deste tipo de situação, mas basta percorrer a web para encontrar artigos que discutem as consequências ambientais do desemprego, sob diversos aspectos. Queda na compra de produtos ambientalmente corretos (geralmente mais caros), a suspensão de políticas de taxação de produtos poluentes, ou a diminuição de investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D), são consequências do desemprego, discutidas na Europa e nos Estados Unidos. Um assunto que preocupa especialistas americanos, por exemplo, é que com o rareamento de postos de trabalho, pessoas são obrigadas a aceitarem empregos longe de suas casas, provocando aumento nos deslocamentos de veículos, ampliando as emissões de gases. A mesma situação certamente ocorre nas grandes metrópoles brasileiras, mas dada a pouca disponibilidade de dados e informações, este fato passa despercebido, ignorado no meio de tantos impactos ambientais maiores.

Há outros fatos, mais evidentes, que demonstram o efeito negativo da crise econômica e do desemprego sobre o meio ambiente. Recentemente o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou um decreto através do qual voltará a dar incentivos à exploração do carvão, com o objetivo de gerar mais empregos neste setor. A mineração de carvão já passava por uma crise de empregos há alguns anos, devido à automação de processos e a queda no consumo – carvão vinha sendo substituído por gás natural. A medida, criticada por ambientalistas, também pretende liberar novas áreas para exploração do carvão. Assim, para reabrir alguns milhares de postos de trabalho e beneficiar um setor em crise, o presidente Trump aumentará consideravelmente as emissões de gases de seu país.

No Brasil a crise econômica e o desemprego sempre foram usados como argumentos para diminuir o rigor na análise de projetos, sob aspecto ambiental. Assim, a construção de grandes obras de infraestrutura, de grande impacto ambiental, são justificadas segundo a propaganda oficial, por gerarem empregos e desenvolvimento. Isto ocorre desde a construção da rodovia Transamazônica, na década de 1970, até as recentes hidrelétricas na Amazônia. O argumento é repetido pela imprensa, pelos empresários e por políticos, sendo aceito por parte da população. Os que exigem mais rigor ambiental, são considerados os inimigos do progresso.

Texto: Ricardo Rose
contato@sustentahabilidade.com.br

O que você acha?

Escrito por Ricardo Rose

Ricardo Ernesto Rose, jornalista, graduado em filosofia e pós-graduado em gestão ambiental e sociologia. Desde 1992 atua nos setores de meio ambiente e energia na área de marketing de tecnologias.

Clicamos o Cacique Raoni em São Paulo.

Mudanças climáticas prejudicam a pesca