A história nos mostra que tempos de crise são tempos de mudanças. Os períodos de perturbação na economia e nas relações sociais representam uma ruptura com o passado, com uma situação existente, indicando que a forma como a sociedade vinha se organizando já não funciona mais. As consequencias de tais condições podem ser as crises e as reformas econômicas, os conflitos e o aparecimento de novos grupos sociais e o surgimento de novas ideias no âmbito da cultura. Assim, para que os indivíduos, grupos sociais e sociedades possam continuar existindo, é necessário que se adaptem às mudanças com a criação de novas estruturas econômicas e sociais.
A adaptação às alterações se desenvolveu com a própria vida, desde sua origem. O desenvolvimento das espécies, processo do qual nós, seres humanos, também fazemos parte, ocorre porque linhagens ou grupos de indivíduos foram submetidos a algum tipo de perturbação. Terremotos, secas prolongadas, doenças e alterações genéticas, provocaram o desaparecimento da maior parte dos membros do grupo, sobrando apenas aqueles indivíduos que, por alguma razão, tiveram capacidade inata de se adaptar às novas condições ambientais. Toda a vida existente na Terra é resultado deste processo. Somos todos, das bactérias às palmeiras e dos besouros às baleias, descendentes de indivíduos que passaram por crises de todo tipo e que sobreviveram para contar a história. A ciência nos diz que 98% das espécies dos cinco reinos atualmente existentes (plantas, fungos, animais, protista e monera) estão extintos.
As sociedades humanas, diferentemente das outras espécies, podem acumular conhecimentos sobre como reagir às crises. A cultura – incluindo ai todo conhecimento científico e tecnológico acumulado ao longo de toda história do homo sapiens – é o instrumento que nos coloca em vantagem sobre os demais seres vivos. Não dependemos somente de uma possível capacidade de adaptação de alguns indivíduos de nossa espécie, produto de mutações genéticas, e o que significaria a morte para o restante da espécie. Temos meios de mudar o nosso meio ambiente – através do fogo, dos instrumentos de caça, da agricultura, das máquinas, dos abrigos e dos remédios – possibilitando que a maioria dos indivíduos de nossa espécie sobreviva às intempéries, cataclismos e doenças.
Esta capacidade dos humanos em sempre tirar proveito do meio ambiente, sobrevivendo aos períodos glaciais, às explosões vulcânicas e abandonando regiões áridas, pode ter um fim. Com a tecnologia usada na atividade econômica, para nossa sobrevivência, estamos indo longe demais na alteração do meio ambiente. A tecnologia, empregada de uma maneira desastrada – superexploração dos recursos hídricos, dos solos, dos mares – está diminuindo as chances da humanidade persistir como espécie, pelo menos aqui no planeta Terra, se não implantarmos mudanças para sairmos da crise.
A história da humanidade, escrita por cientistas de uma civilização do futuro, seria emocionante e irônica ao mesmo tempo. Falaria sobre a única espécie deste planeta capaz de criar suas próprias condições de adaptação, sobrepondo-se à natureza. Em certo ponto de sua história, no entanto, as forças da natureza despertadas pelas atividades humanas teriam sido poderosas demais, e acabaram destruindo o homem.
fotos: http://hypescience.com/evolucao-humana-ancestrais/
(*) Ricardo Ernesto Rose
(*) Consultor, jornalista e autor, com especialização em gestão ambiental e sociologia. Graduado e pós-graduado em filosofia. Desde 1992 atua nos setores de meio ambiente e energia na área de marketing de tecnologias, trabalhando para instituições internacionais. Atualmente é consultor em inteligência de mercado no setor de sustentabilidade. É editor do blog “Da natureza e da cultura” (www.danaturezaedacultura.blogspot.com). Seu site profissional é: www.ricardorose.com.br