Estamos recebendo com uma certa frequência, informações sobre novas doenças, novos transtornos, mas temos que tomar muito cuidado porque nem tudo é verídico. Um exemplo atual é em relação ao comportamento das pessoas que tiram selfies com grande frequência. Seriam então pessoas acometidas pelo transtorno mental “SELFITIS”, conforme indicação de pesquisadores da Universidade de Nottingham Trent da Inglaterra e da Thiagarajar School of Management da Índia. Esse novo parâmetro não foi confirmado pela American Psychiatric Association e de fato não há qualquer menção no CID 10 – código internacional de doenças.
De qualquer forma, isso não significa que os abusos não estão acontecendo, muito pelo contrário. A todo instante podemos perceber e testemunhar pessoas que utilizam exacerbadamente a tecnologia: celulares e computadores ou mesmo tvs, ficando um tempo interminável em jogos eletrônicos, redes sociais, whatsapp, selfies, instagran e tantos outros. E isto acontece dentro da nossa própria família.
A tecnologia é maravilhosa pois vem ao encontro das soluções necessárias para o nosso dia-a-dia porém, quando passa da conta, quando o indivíduo começa a se isolar das pessoas, quando deixa de cumprir obrigações ou quando coloca a própria vida e a do outro em risco (envio de mensagens ao dirigir um carro), temos que começar a avaliar e a entender se já não há um comprometimento mais sério, se o hábito já não virou uma ‘dependência’.
Em entrevista ao programa “Vida Melhor” da Rede Vida, a Dra. Cineiva Campoli, Presidente do Instituto Tecnologia e Dignidade Humana, fala sobre as consequências que o desequilíbrio na utilização das facilidades tecnológicas traz, principalmente quando se fala em crianças e adolescentes. Chama a atenção principalmente quanto aos jogos eletrônicos. Com relação a este item em específico, a Organização Mundial de Saúde fará sua inclusão na próxima revisão do código de doenças (11ª versão) como classificação de transtorno mental (informação da EBC – Agência Brasil).
Estas são algumas informações apresentadas pela Dra. Cineiva, que mostram a relevância do assunto, principalmente por estarem pautadas em pesquisas científicas e já adotadas pela Sociedade Brasileira de Pediatria, como orientação aos profissionais, pais e educadores:
- Em hipóteses alguma dar acesso tecnológico à criança de até 2 anos;
- Dos dois aos 6 anos limitar o tempo de uso e o que utiliza, principalmente no que se refere a jogos;
- Jogos eletrônicos ativam o SNC (sistema nervoso central) e viciam tanto quanto as drogas lícitas e ilícitas pois mexem com o sistema de recompensa;
- Jogos que envolvem ações de matar para subir de nível podem interferir na introjeção e identificação de valores negativos;
- A violência no trato interpessoal está equivalente ao tempo dedicado aos jogos violentos.
Adultos também apresentam comportamentos inadequados quando se trata de novidades tecnológicas e vemos isso nos vários relatos de acidentes de trânsito que acontecem, filhos que reclamam da falta de atenção dos pais, baixa qualidade nos relacionamentos e tantas outras disfunções.
Muitas vezes não há como lidar sozinho com a situação e na verdade não precisa. Hoje já temos profissionais e clínicas especializados nesse tipo de dependência, além de grupos de ajuda.
Entender que a dependência, seja ela qual for, traz um empobrecimento, uma perda de identidade e de valores. O indivíduo se torna o avesso de si mesmo.
Abaixo o comentário de um jovem britânico que diz tirar 200 selfies por dia. Esta informação foi tirada do site da Globo G1:
” “Anos atrás, eu não tinha essa aparência. Eu costumava ser bastante natural. Mas eu tinha uma obsessão com as redes sociais… Eu queria fazer um upgrade. Então fiz um folheamento dentário, preenchimento de queixo, preenchimento de bochecha, preenchimento de mandíbula, preenchimento de lábios, botox sob os olhos e na cabeça, sobrancelhas tatuadas e congelamento de gordura (criolipólise)”.
Estamos diante de um problema muito sério e tal qual a dependência química, precisa de políticas de prevenção, além de atenção, esclarecimentos e um posicionamento bastante ativo da família e da comunidade.
Texto de Maria Cristina Lopes e Veronica Salete
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