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O inverno dos ignorantes.

As noites glaciais de São Paulo, aqueceu somente o debate público sobre as medidas adotadas pela Prefeitura do Município, diante dos moradores de rua. Num primeiro momento, foi noticiado a ação da Guarda Civil Metropolitana, que estava retirando colchões e pertences daqueles cidadãos que desgraçadamente não possuem teto. Em seguida, uma nova notícia no site da Veja, informou que o prefeito “prometeu editar um decreto até este sábado, garantindo a esses cidadãos o direito à posse de artigos pessoais, pois a população de rua tem se queixado de ter os bens tomados mesmo em dias com recordes de baixas temperaturas“. Este estranho cenário de atitudes inexplicáveis, nos obriga a refletir, inicialmente, sobre o modelo de gestão da coisa pública no Brasil. Custa nos acreditar que em nenhum escalão das esferas administrativas, NINGUÉM tenha tomado uma atitude humana e de caridade para brecar esta insensatez. Ou seja, os órgãos públicos são administrados por “profissionais” absolutamente burocratas que cumprem ordens sem o menor constrangimento de cometer absurdos, comprovando que não conseguem pensar um palmo a frente do nariz. Estamos formando dirigentes de pensamento tão absurdamente linear (*), onde o obvio precisa ser discutido e alertado.

Outro ponto a ser destacado, é que estamos construindo uma sociedade de indivíduos incapazes de pensar por si, e portanto devem ser controlados por “decretos-lei”. O Decreto do Prefeito segundo a Veja é para “garantir ao cidadão o direito de posse “. Deus do céu … precisamos de um decreto para nos garantir o direito de posse ? Não há Constituição neste país ? E mais ainda … precisamos de um decreto para preservar o direito de posse de pedaços de papelão e cobertores imundos, cheirando a urina, a uma população de desgraçados? Esta é a “proteção social” para aquela população? Em que mundo estes burocratas estão vivendo? Estamos criando leis para garantir outras leis? Que absurdo! E esta mania de “decretos-lei” para garantir o óbvio não é uma exclusividade paulistana. Em Brasília, o Governo Federal em exercício, editou uma medida que condiciona as Despesas com a Receita auferida. Ora, qualquer criança sabe que é impossível gastar o que não se tem… Desde quando, é permitido passar “cheque sem fundo” no Governo? Pois é, cria-se outra lei para garantir o respeito a Lei de Responsabilidade Fiscal existente. E não é só na esfera pública que o obvio precisa ser avisado e criminalizado, pois o comportamento do indivíduo brasileiro, sempre necessita de monitoramento. Em junho de todos os anos, temos que avisar que é crime soltar balões. No inverno alertar aos motoristas para não jogar bitucas de cigarro na estrada, pois podem gerar incêndios nas matas ressecadas, e isto é crime. Seja crime ou não, tudo no Brasil, tem que ser avisado pois estamos criando uma nação onde o cidadão não tem mais compromisso com o bom senso, com a sensatez, com adequação ou limites. Desde o prefeito da maior cidade da América Latina, que mostrou não possuir nada disto (incluso asseclas) à alguns cidadãos, que desrespeitam a coisa pública ou a outrem. E isto se comprova em qualquer banheiro, mesmo na empresa privada, onde é comum encontrarmos avisos “não urine no chão” ou “dê a descarga após o uso”. Precisamos avisar estas coisas?

Em todos os países do mundo, comprova-se que quanto maior a democracia e o avanço do capitalismo moderno, mais e mais as sociedades se organizam socialmente, gerando cidadãos compromissado com a coisa pública, sensatos e com respeito ao outro. Manter modelos estatizantes de gestão no século XXI, nos leva para um mar de inércia, onde o cidadão cada vez mais se descola do compromisso social individual e coletivo, gerando seres estúpidos, que precisam ser alertados até para não soltar balões ou urinar no chão.

O Brasil está precisando de um choque de civilização, onde as pessoas passem a gerir e se responsabilizar pelos seus atos, através do bom senso, sem a necessidade de ficarmos editando leis em cima de outras leis para cumprimento do óbvio.

O certo é certo e o errado é errado. Nada mais.

E isto vale para o indivíduo comum ao Prefeito de São Paulo, pois parecem que não percebem sequer que a temperatura nas madrugadas, está próxima de zero.

Autor: Roberto Mangraviti
contato@sustentahabilidade.com.br

(*) Pensamento Linear é aquele que segue uma linha, ou seja, aquele que não foge em nenhum ponto do assunto principal e não muda sua trajetória, podendo as vezes se mostrar insuficiente para compreensão da complexidade da vida e dos conflitos .

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Escrito por Roberto Mangraviti

Economista e Facility Manager em Sustentabilidade. Editor, diretor e apresentador do Programa Sustentahabilidade pela WEBTV. Palestrante, Moderador de Seminários Internacionais de Eficiência Energética, Consultor da ADASP- Associação dos Distribuidores e Atacadistas do Estado de São Paulo e colunista do site do Instituto de Engenharia de São Paulo.

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