Poucas vezes pensamos acerca das origens dos produtos e dos materiais que utilizamos diariamente em nossas atividades. Não sou químico nem físico, mas como leigo interessado no tema sei que qualquer produto é formado por um ou mais materiais, que para existirem precisaram sofrer um processo de transformação. Esta transformação físico-química pode ser de dois tipos: a natural e a produzida pelo homem.
O petróleo é um exemplo de transformação natural. Esta substância oleosa, com cor variando do castanho claro, passando pelo marrom até o preto, altamente inflamável, extraída a grandes profundidades, é constituída pelos corpos de inúmeros microrganismos, submetido a pressões altíssimas, na ausência de oxigênio durante milhões de anos. Depois de extraído, o petróleo é submetido a um processo de transformação artificial, executado pelo homem com sua tecnologia. O petróleo cru passa por uma destilação fracionada (basicamente um aquecimento a temperaturas crescentes) do qual resultam substâncias básicas, como: éter, benzina, nafta, gasolina, querosene, óleo diesel, óleos lubrificantes, asfalto, piche, coque, parafina e vaselina; todos extraídos em uma determinada faixa de temperaturas. A partir da nafta são fabricadas matérias primas para plásticos PVC e poliuretano. De outros derivados fabricam-se detergentes líquidos, defensivos agrícolas, produtos de higiene, cosméticos, tecidos, remédios e até produtos para alimentos. Todo o processo começou há milhões de anos, quando um terremoto ou outro fenômeno natural soterrou o fundo do oceano, cobrindo bilhões de carcaças de pequenos organismos. Sob o ponto de vista da química ocorreu apenas um processo de rearranjo e perda de átomos formando novas moléculas, eventualmente com liberação de energia.
É desta maneira que surgem os diversos materiais dos quais nos utilizamos; seja através da extração direta da natureza (mineração) ou através de processamento físico-químico. O problema inerente a tudo isso é que essa transformação – do minério em ferro ou aço; da argila em cerâmica, do gás natural em metanol até os solventes – demanda grandes quantidades de energia, seja na forma de eletricidade ou calor. Outro aspecto é que todos os processos de produção geram grandes quantidades de resíduos, muitos dos quais com custo altíssimo de reaproveitamento. O que então ocorre é que estes restos de materiais são incinerados ou depositados em aterros especiais, destinados a produtos com alguma periculosidade. Quando os resíduos do processo produtivo não são dispostos de modo correto, terminam poluindo o ambiente – as ruas, terrenos baldios, aterros clandestinos, áreas desabitadas e às vezes cobertas de vegetação original. Dependendo da toxicidade destes resíduos (ou refugos), o material contamina os lençóis freáticos, poluindo águas de nascentes, poços, rios e lagos.
O grande desafio da indústria continua sendo como aproveitar da melhor maneira possível todas as matérias primas e insumos que entram no processo produtivo. Quanto mais resíduo a indústria – química, automobilística, de alimentos, de bebidas, de embalagens, etc. – gerar em sua produção, mais material estará perdendo, principalmente se ao final a sobra for jogada fora. O planejamento da produção e da distribuição diminui a poluição e reduz o desperdício dos recursos naturais.
Ricardo Rose é jornalista, graduado em filosofia e pós-graduado em gestão ambiental e sociologia. Desde 1992 atua nos setores de meio ambiente e energia na área de marketing de tecnologias. É diretor de meio ambiente da Câmara Brasil-Alemanha e editor do blog “Da natureza e da cultura” (www.danaturezaedacultura.blogspot.com)