A indústria automobilística é um dos mais importantes segmentos do setor industrial em todo o planeta. No Brasil, o setor automobilístico emprega cerca 140 mil pessoas e gera em torno de um milhão de postos de trabalho indiretos, em diversas áreas da economia. Apesar disso, o automóvel é um dos produtos industriais que mais gera impacto ambiental; desde sua fabricação, passando por seu uso, até sua destinação final.
Um dos mais cobiçados bens de consumo da economia de mercado desde a segunda metade do século XX, o automóvel é filho dileto da Revolução Industrial. Desenvolvido no final do século XIX como meio de transporte das elites abastadas da Europa, o veículo foi popularizado nos Estados Unidos pelo aumento do número de fabricantes e a introdução da linha de produção nas fábricas de Henry Ford. Após a Segunda Guerra, quando as grandes marcas automobilísticas se estabeleceram em novos mercados consumidores – entre os quais o Brasil –, o carro se transformou em símbolo de ascensão social da nascente classe média urbana. Além disso, influenciou o desenvolvimento viário e o transporte público das cidades, cujas administrações passaram a dar prioridade ao transporte individual, atendendo a demanda dos grupos econômicos mais influentes.
A hegemonia do automóvel também trouxe problemas ambientais: atualmente os veículos são a quarta maior fonte poluidora da atmosfera do planeta. No Brasil, o problema é minorado graças à adição de 25% de etanol à gasolina e aos carros flex utilizando 100% etanol, o que faz com que nosso combustível seja mais renovável do que os de outros países. Mesmo assim, ainda há muito que fazer quanto à eficiência dos motores da maioria dos veículos populares vendidos no país.
Outro aspecto é quanto à reciclagem dos componentes dos veículos, depois de seu uso. Segundo empresas que atuam no mercado de reuso e reciclagem de peças automotivas, dos veículos modernos com menos de 15 anos, 85% dos componentes são reaproveitáveis, 10% é reciclável e apenas 5% devem ser descartados. Nos Estados Unidos cerca de 80% dos veículos passam por um processo de reciclagem e na Europa 75%. No Brasil, segundo dados mais recentes, apenas 2,5% dos veículos vão para a reciclagem, enquanto que 97,5% acabam em depósitos e desmanches, onde uma parte considerável dos componentes e das peças ainda utilizáveis termina sendo descartada.
O princípio por trás da reciclagem e do reuso das peças de veículos é o mesmo de toda a economia circular: poupar os recursos naturais. Se menos peças precisarem ser fabricadas, menos minério de ferro e alumínio será extraído; o reuso de peças de plástico economiza petróleo; o reaproveitamento de materiais diminui o uso de água e eletricidade. É o princípio de gestão que empresas de vanguarda na indústria automobilística, como a General Motors, a Ford, a BMW, a Audi e a Nissan já vêm utilizando.
A legislação sobre reciclagem de peças automotivas, recentemente criada, além de coibir os desmanches ilegais, abre um novo mercado de atuação para centenas de recicladoras. Ajudaria a desenvolver ainda mais esta atividade um maior envolvimento das montadoras, apresentando a reciclagem de seus veículos como uma vantagem adicional, poupando recursos naturais e contribuindo para o bem estar dos consumidores. Nada mais moderno.
(*) Ricardo E. Rose
(*) Consultor, jornalista e autor, pós-graduado em gestão ambiental e sociologia. Graduado e pós-graduado em filosofia. Desde 1992 atua nos setores de meio ambiente e energia na área de marketing de tecnologias, trabalhando para instituições internacionais. Atualmente é consultor em inteligência de mercado no setor de sustentabilidade. É editor do blog “Da natureza e da cultura” (www.danaturezaedacultura.blogspot.com). Seu site profissional é: www.ricardorose.com.br