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Sustentabilidade e as Oportunidades dos Economistas

Artigo publicado no portal CORECON SP (Conselho Regional de Economia) sobre oportunidades profissionais no campo da sustentabilidade.

Não é novidade que o Livro “Introdução à Análise Econômica”, de Paul Samuelson, foi e ainda é, o caminho de aprendizado dos economistas em todo mundo.

Em 1955, quando da primeira edição, o mundo ainda estampava cicatrizes sociais e econômicas, do final da Grande Guerra de 1945.

Naquela oportunidade, o foco econômico estava totalmente voltado para indústria, maior gerador de riqueza e emprego. Era uma visão naturalmente imediatista: recuperar o tempo perdido e gerar riqueza a qualquer custo.

Aquela cultura empresarial já recebia críticas do Professor Samuelson, que destacava a necessidade de transformar o conceito de PNB numa medida melhor, onde a poluição oculta e custos ecológicos fossem considerados, sugerindo então um novo conceito: BEL ou “Bem-estar Econômico Líquido”.

Na segunda metade do século, o PIB mundial cresceu quase sete vezes (contra 2,7 do período bélico), enquanto o foco das empresas transferia-se paulatinamente, da indústria para o marketing/distribuição até chegar ao próprio consumidor, razão de toda empresa.

Alguns líderes ratificaram Samuelson, anos depois, como Gro Harlem Brundtland, então primeira ministra da Noruega e nomeada Chefe da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento nos anos 80. Em 1987, o conceito de sustentabilidade foi publicado  no relatório “Our Common Future”  (conhecido como Relatório Brundtland), sendo, “o desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades”.

Mais recentemente, em 2010, Nicholas Stern, economista inglês e assessor da ONU, afirmou aqui em São Paulo que “em 2020 serão necessários de 2% a 3% da riqueza gerada no Planeta, para evitar uma catástrofe ambiental.”

Se esta e outras previsões irão se concretizar, ninguém em sã consciência pode afirmar, pois não há como prever as soluções tecnológicas que a humanidade terá à  disposição para levar maior eficiência ao sistema produtivo, sem nenhum ônus sócio-ambiental. Contudo é fundamental destacar aos profissionais de todas as áreas, as imensas oportunidades de negócios que estas novas filosofias imporão ao mercado de trabalho.

Pois, paralelamente a estas percepções empresariais e técnicas, o mercado tenderá a absorver rapidamente uma mão de obra, especialmente de economistas, que possuam conhecimentos complementares de sustentabilidade e responsabilidade social corporativa, convergentes com essas novas demandas.

Como exemplo, vale destacar o Anuário Gestão Ambiental 2011/12 publicado pela Análise Editorial que avaliou instituições bancárias brasileiras e que representam 86% dos ativos totais, segundo o Banco Central. O anuário aponta que 71% dessas instituições, possuem políticas de risco sócio ambiental e 67% contam com profissionais especializados para análise de gestão e risco ambiental dos clientes. Assim sendo, avaliar o risco do crédito começa a ganhar contornos que vão muito além da análise de balanço.

A própria Organização Internacional do Trabalho afirmou em 2012 que metade da força de trabalho, em todo mundo, será afetada pela transição para uma economia verde, sendo que os setores mais envolvidos serão: agricultura, pesca, energia, indústria manufatureira, reciclagem, construção e transporte, ou seja, setores fundamentais na composição do PIB brasileiro.

Apesar de não mencionado pela OIT, o trade marketing também desempenhará papel relevante neste cenário “verde”, pois teremos que entender as escolhas e reações do consumidor na complexidade do mundo contemporâneo, onde de um lado temos uma China que produz o PIB de uma Grécia em 12 semanas, e de outro, consumidores selecionando nas prateleiras de supermercados, empresas responsáveis nas práticas sócio-ambientais.

Esta atitude seletiva de consumidores é comprovada pela pesquisa de Nielsen (2012) com 28.000 entrevistados em todo mundo. O resultado indica que na América Latina, 49% dos consumidores estão dispostos a pagar mais por produtos responsáveis e 77% dos entrevistados preferem comprar produtos que dão retorno social.

Pelos números apresentados, é prudente considerar que a sustentabilidade implicará em novos modelos de negócio, consumo e trabalho.

Cabe aos economistas uma adequada preparação para estes novos tempos, levando nossa fundamental contribuição a este ambiente de negócios transformado, que apesar de ainda indefinido no formato, apresenta claramente um viés de expansão e aprofundamento das praticas de responsabilidade sócio-ambiental.

A estimativa do tempo necessário para que estas transformações ocorram, caberá ao velho ditame de mercado, na exata intersecção de interesses de investidores e consumidores.

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Escrito por Roberto Mangraviti

Economista e Facility Manager em Sustentabilidade. Editor, diretor e apresentador do Programa Sustentahabilidade pela WEBTV. Palestrante, Moderador de Seminários Internacionais de Eficiência Energética, Consultor da ADASP- Associação dos Distribuidores e Atacadistas do Estado de São Paulo e colunista do site do Instituto de Engenharia de São Paulo.

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