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Aproveitamento dos rios de São Paulo

No século XVI a cidade de São Paulo não tinha mais do que algumas centenas de habitantes. O local onde estava assentado o primeiro núcleo urbano, hoje conhecido como “Pátio do Colégio”, era uma colina ladeada pelos rios Anhangabaú e Tamanduateí situados dentro de extensas várzeas. Estas áreas – principalmente o vale do Tamanduateí – eram sujeitas a enchentes, que ocorriam na época das grandes chuvas, durante os meses de verão. Ao diminuir seu volume, o rio deixava atrás de si peixes mortos. Foi provavelmente daí que veio o nome “piratininga”, que quer dizer “peixe seco” na língua tupi; grupo indígena que habitava a região. O tempo foi passando e os rios de São Paulo sofreram transformações dos mais variados tipos. Alguns, como o rio Anhangabaú foram canalizados; outros, como o Tamanduateí e o Tietê foram retificados ao mesmo tempo em que passaram a receber efluentes das casas e das fábricas.

Os rios que circundam São Paulo também serviram como rota de transporte. Do litoral de São Vicente subia-se a Serra do Mar por um caminho já conhecido pelos índios e mais tarde batizado como “caminho dos jesuítas”. No planalto, navegando pelo rio Jurubatuba (ou Grande) desde a região onde hoje se localiza o município de Riacho Grande, os viajantes chegavam ao rio Guarapiranga e alcançavam o rio Pinheiros, na região onde atualmente está o bairro paulistano de Santo Amaro (vila fundada em 1556 por José de Anchieta). Pelo rio Pinheiros navegavam até a desembocadura do rio Tietê (à época chamado de Anhembí), que percorriam até a foz do Tamanduateí, rio que subiam até alcançarem a vila de São Paulo. Os viajantes dos primeiros tempos da colonização do planalto paulista, percorriam uma rota que hoje em parte é seguida pelas marginais Pinheiros e Tietê. Os rios Jurubatuba e Guarapiranga foram respectivamente transformados nas represas Billings e Guarapiranga.

Retomando a ideia de que se pode navegar em tono da cidade de São Paulo, um grupo de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) está propondo a construção de uma hidrovia que circundará parte da região metropolitana. O projeto “Hidroanel Metropolitano de São Paulo” planeja criar uma rede de vias navegáveis, composta pelos rios Pinheiros, Tietê, represa Taiaçupeba (entre Suzano e Mogi das Cruzes) e Billings, acrescido de um canal que deverá ligar as duas represas. O hidroanel deverá ter uma extensão total de 170 km e, se aprovado, será provavelmente a maior obra já realizada em região urbana no país. O projeto deverá conectar e utilizar rios e represas que circundam 14 municípios da região metropolitana, gerando 40 mil empregos diretos e 120 mil indiretos, durante a implantação do projeto – um período de aproximadamente 30 anos.

No projeto prevê-se a construção de estações de tratamento de esgoto, de canais, eclusas e diversos tipos de portos. Uma das funções da hidrovia metropolitana será receber em seus portos todo o material descartado pela cidade, tornando-se a rota para escoar o refugo e o material reciclado pela região. No projeto também foi incluída a construção de 60 “ecoportos”; cais para convivência comunitária e atividades lúdicas e culturais.

Ainda não há previsão para início do projeto ou se o este será aprovado no governo. Mais informações sobre o hidroanel encontram-se no site: http://www.metropolefluvial.fau.usp.br/hidroanel.php

Ricardo Rose é jornalista, graduado em filosofia e pós-graduado em gestão ambiental e sociologia. Desde 1992 atua nos setores de meio ambiente e energia na área de marketing de tecnologias. É diretor de meio ambiente da Câmara Brasil-Alemanha e editor do blog “Da natureza e da cultura” (www.danaturezaedacultura.blogspot.com)

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Escrito por Ricardo Rose

Ricardo Ernesto Rose, jornalista, graduado em filosofia e pós-graduado em gestão ambiental e sociologia. Desde 1992 atua nos setores de meio ambiente e energia na área de marketing de tecnologias.

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