O volume das chuvas na região Sudeste deve continuar baixo durante o próximo ano. O instituto Climatempo de Meteorologia prevê que no próximo verão as precipitações pluviométricas deverão permanecer abaixo da média histórica no período – 1.250 mm entre outubro e março –, mas um pouco acima dos níveis 2013/2014. Com isso, a população do estado de São Paulo não ficará livre de novos racionamentos e das demais consequências da seca.
A escassez d’água está afetando principalmente as seis bacias do rio Tietê, onde estão localizadas mais de 200 cidades (quase 30% dos 645 municípios do estado), prejudicando cerca de 27 milhões de pessoas em seus afazeres diários. A estiagem também está causando estragos na pecuária e na agricultura, provocando uma quebra de 33% na safra do milho, 17% na de soja e 8% na cana-de-açúcar. Além disso, também prejudica o pequeno agricultor, que fornece a maior parte dos produtos hortifrutigranjeiros consumidos diariamente pela população urbana. Caso as chuvas não ocorram com mais frequência até o mês de setembro, não há como preparar o solo para o plantio da próxima safra, provocando redução na colheita em 2015.
Os índices pluviométricos no estado de São Paulo são influenciados basicamente por três macro-fenômenos climáticos: a umidade que é trazida da região amazônica, o fenômeno do El Niño e as mudanças climáticas. A umidade é formada por nuvens que do oceano Atlântico penetram na região amazônica e ali se precipitam. Através da evapotranspiração formam-se novas nuvens, que são deslocadas pelos ventos para as regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul, onde formam grande parte das chuvas. O El Niño tem origem na variação de temperatura do oceano Pacífico e, no caso do Brasil, influencia diretamente o regime de chuvas das diversas regiões do país. As mudanças climáticas são um fenômeno global, resultado do aquecimento da atmosfera, que se manifesta na forma de variações de temperaturas e suas conseqüências (chuvas, secas, etc.).
A interligação destes três principais fenômenos climáticos é muito grande. Existem autores que já prevêem uma diminuição nos volumes de chuvas nas regiões Sudeste e Sul do Brasil, dada a diminuição da área florestal na Amazônia. Os desmatamentos, que nos últimos meses vêm crescendo novamente segundo alerta de agências atuantes na região, estão reduzindo a cobertura vegetal e com isso o volume de nuvens formadas pela evapotranspiração. Este fenômeno climático ainda não é conhecido detalhadamente, mas a recente seca que afeta a região Sudeste pode indicar o início de um processo cuja dinâmica ainda ignoramos. Da mesma forma, ainda não sabemos qual a influência do aquecimento global sobre fenômenos climáticos conhecidos, como o El Niño. Se a grande causadora do El Niño é a variação da temperatura do oceano Pacífico – os oceanos atuam como condicionadores do clima da Terra – quais seriam as consequências de aumentos de 2ºC a 3ºC na temperatura do planeta, como está previsto que aconteça até o final deste século?
A tecnologia só nos deu uma aparente independência em relação à natureza. Ainda somos uma espécie nova e não aprendemos o quanto o clima pode influir na sobrevivência ou extinção de uma espécie. Lembremos que 99% de todas as espécies que até hoje apareceram sobre na Terra já não existem mais, como consequência de mudanças climáticas que provocaram a falta de água e alimentos.
Ricardo Ernesto Rose consultor, jornalista e autor, pós-graduado em gestão ambiental e sociologia. Graduado e pós-graduado em filosofia. Desde 1992 atua nos setores de meio ambiente e energia na área de marketing de tecnologias, trabalhando para instituições internacionais. Atualmente é consultor em inteligência de mercado no setor de sustentabilidade. É editor do blog “Da natureza e da cultura” (www.danaturezaedacultura.blogspot.com). Seu site profissional é: www.ricardorose.com.br