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O problema da gestão da água no Brasil

O Brasil dispõe de grande estoque de recursos hídricos, o que nos dá uma grande vantagem em diversas áreas. Nosso setor agropecuário, um dos maiores do mundo, utiliza cerca de 70% dos recursos hídricos explorados. A indústria nacional, por seu lado, absorve outros 20% e os restantes 10% são utilizados para abastecer a população. Estamos longe dos problemas enfrentados por países quase tão populosos quanto o Brasil, como o Egito (88 milhões de habitantes) e o México (118 milhões de habitantes), que em pouco tempo deverão enfrentar sérias dificuldades de disponibilidade de água para as atividades econômicas. Isto sem falar de nações como a Jordânia, os Emirados Árabes e a Mauritânia, entre outros, que efetivamente já se vêem às voltas com sérias dificuldades para abastecer a população. Segundo dados da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) o Brasil é o país com maior volume de água disponível; incluindo precipitação (chuva), água de superfície (rios e lagos) e água de subsolo (aquíferos).

No entanto, dada a extensão territorial do País, ocorre naturalmente que algumas regiões tenham muito mais água do que outras – caso da Amazônia e do Nordeste. No entanto, baseado em padrões técnicos internacionais mesmo a área do Agreste, no interior do Nordeste, ainda está em situação melhor do que grande parte dos países do Oriente Médio e da África saariana e subsaariana. A dificuldade desta região brasileira – e de outras que por vezes enfrentam estiagens – esta muito mais na gestão dos recursos hídricos, do que em sua falta.

Há aspectos que por vezes causam espanto a especialistas que nos visitam ou estudam as condições de nosso país: por um lado, grande disponibilidade de água, às vezes mal distribuída, mas nenhuma região com absoluta falta do precioso líquido. Por outro lado, uma ausência de políticas de gestão dos recursos hídricos, de modo a permitir um ritmo normal das atividades econômicas e conforto da população. Exemplo disso é as secas que há mais de 150 anos afetam a região Nordeste, resultado em parte da falta de açudes, práticas agrícolas incorretas e questões fundiárias. No outro extremo, estão as recentes cheias do rio Madeira, em Rondônia, provocadas, segundo os especialistas, pelas barragens das hidrelétricas de Santo Antonio e Jirau. Outro fato comparável é a falta de água que afeta a cidade de São Paulo, resultado de anos de imobilismo e que agora se pretende resolver com ações tiradas da cartola, como a utilização da água do rio Paraíba do Sul.

Outro fator que contribui para o comprometimento dos recursos hídricos é a falta de tratamento dos esgotos domésticos. Apesar das obras do PAC e de iniciativas de governos estaduais e municipais, somente cerca de 60% dos efluentes são coletados e destes apenas 40% em média são tratados. Se o fato já é ruim pior são suas conseqüências, porque o esgoto descarregado em rios e lagos sem tratamento acabam por poluir águas limpas. Assim, ocorre que o volume de água limpa se reduz cada vez mais, contaminado pelo lançamento de esgotos.

Alertas não faltam. Ainda recentemente a ONG SOS Mata Atlântica publicou um estudo apontando a péssima qualidade da água em 96 rios, córregos e lagos, em seis estados brasileiros. Até quando os governos federal, estaduais e municipais pretendem empurrar o problema com a barriga?

Ricardo Rose é consultor e jornalista, pós-graduado em gestão ambiental e sociologia. Graduado e pós-graduado em filosofia. Desde 1992 atua nos setores de meio ambiente e energia na área de marketing de tecnologias, trabalhando para instituições internacionais. É autor de quatro livros sobre meio ambiente e sustentabilidade e editor do blog “Da natureza e da cultura” (www.danaturezaedacultura.blogspot.com). Seu site profissional é: www.ricardorose.com.br

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Escrito por Ricardo Rose

Ricardo Ernesto Rose, jornalista, graduado em filosofia e pós-graduado em gestão ambiental e sociologia. Desde 1992 atua nos setores de meio ambiente e energia na área de marketing de tecnologias.

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