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Sal, açúcar e gordura

A alimentação representa o mais antigo e fundamental vínculo que o ser humano tem com a natureza. Apesar de todo avanço da tecnologia agrícola, são as condições ambientais – como a temperatura e o ritmo de chuvas e as características do solo e de seus micro-organismos – que continuam sendo determinantes na produção dos alimentos. Durante centenas de milhares de anos nos alimentamos principalmente de carnes, acompanhadas de algumas raízes e eventuais frutos. Foi apenas nos últimos 10 mil anos, quando passamos a praticar a agricultura, que a base da nossa dieta passou a ser de cereais e grãos – trigo, aveia, arroz, milho.

Os primeiros alimentos processados industrialmente surgiram no final do século XIX, tornando-se populares depois da 2ª Grande Guerra. Atualmente é quase impossível fazer uma refeição, sem ingerir algum alimento processado. Durante sua preparação, são adicionados aditivos químicos – corantes, aromatizantes, conservantes, antioxidantes, estabilizantes e acidulantes – que têm a função de dar sabor, cheiro, aspecto natural e durabilidade ao alimento. Outros componentes bastante importantes, dosados de modo a tornar os alimentos mais agradáveis ao paladar – mas nem por isso mais saudáveis -, são o sal, o açúcar e a gordura hidrogenada. São estas substâncias que aumentam o impulso de consumo de produtos como refrigerantes, batatas fritas, salgadinhos, biscoitos, sorvetes e bolos.

Há mais de quarenta anos é conhecida a estreita relação entre o sal, o açúcar, a gordura trans (hidrogenada) e as doenças cardiovasculares, o diabetes, o excesso de peso e certos tipos de câncer. Na Europa e nos Estados Unidos, campanhas governamentais e iniciativas de ONGs procuram conscientizar os consumidores sobre o perigo do excesso de sal, açúcar e gordura, contidos em determinados alimentos. Recentes legislações nestes países limitam a adição destas substâncias às comidas e exigem que os fabricantes incluam informações mais claras nos rótulos dos produtos.

No Brasil o problema mal começou a ser discutido. O percentual de pessoas adultas com sobrepeso e obesas está em torno de 52% da população e o de crianças em 39%. O aumento de peso das crianças se dá principalmente entre a população mais pobre, que consome quantidades maiores de alimentos processados, por serem mais baratos que os outros. Esta população tem menos acesso à informação e a recursos como médicos e clínicas especializados, academias e remédios. O filme brasileiro “Muito além do peso” (https://www.youtube.com/watch?v=8UGe5GiHCT4) aborda este problema, em reportagens sobre a má educação alimentar infantil no país.

No Brasil, o controle da qualidade dos alimentos é partilhado por diversos órgãos e entidades da administração pública, como o Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS), Sistema Único de Saúde (SUS), Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), entre outros. A falta de clareza na competência do controle gera problemas, além das legislação excessivamente detalhada e nem sempre revisada. Segundo o jornalista americano Michael Moss, autor do livro traduzido “Sal, açúcar e gordura – Como a indústria alimentícia nos fisgou”, o setor está dominado por grandes empresas, que exercem forte pressão sobre o governo e a mídia. Assim, para ter melhor qualidade de vida, a sociedade civil precisa se organizar e reivindicar.

(*) Ricardo Ernesto Rose

(*) Consultor e jornalista com especialização em gestão ambiental e sociologia. Graduado e pós-graduado em filosofia. Desde 1992 atua nos setores de meio ambiente e energia na área de marketing de tecnologias, trabalhando para instituições internacionais. É autor de quatro livros sobre meio ambiente e sustentabilidade e editor do blog “Da natureza e da cultura” (www.danaturezaedacultura.blogspot.com). Seu site profissional é: www.ricardorose.com.br

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Escrito por Ricardo Rose

Ricardo Ernesto Rose, jornalista, graduado em filosofia e pós-graduado em gestão ambiental e sociologia. Desde 1992 atua nos setores de meio ambiente e energia na área de marketing de tecnologias.

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