Quando menino, na dura realidade das ruas em que vivíamos nos anos 60, um “dedo-duro” ou “cagueta” (*) era motivo de pesadas sanções do grupo de jovens rebeldes que buscávamos ser.
Entendíamos que, uma pessoa que “entregasse” o companheiro, contando algo estranho, como por exemplo, quem teria quebrado uma vidraça no jogo de futebol à um adulto, representava ser um elemento realmente perigoso … um “risco para sociedade”.
Pelos menos para a “nossa” sociedade dos boleiros.
Afinal Che Guevara era nosso ídolo revolucionário.
Havia nestas situações, quase um “tribunal da inquisição”, que julgaria aquele “desinfeliz” do cagão… delator … e outros adjetivos impublicáveis.
Uns 30 anos passados, na Copa da França (1998) , quando o jogador Rivaldo da equipe do Brasil, que estava perdendo a final para os franceses, decidiu jogar a bola para fora do campo para atender um adversário contundido, somente não foi apedrejado, porque Paris está longe das terras brasileiras .
Mas queríamos MATAR aquele vacilão, afinal, ”estamos perdendo o jogo, porra”
Esse era o sentimento dominante de 100% da população, de beatos até assaltantes, afinal somos torcedores fanáticos.
Que fair play que nada …queremos GANHAR, custe o custar !
Século XXI . Felizmente ser maricas, vacilão, esquerdista, palmeirense, corinthiano, são opções que cabe a cada um, com direito a sê-lo (desde que não importune a outrem).
E ganhar a qualquer custo, no grito, não é mais correto, muito menos agir sem fair play, fora do campo de futebol
O problema agora está em ser fanático, que em geral é um comportamento que se associa a pessoas que querem “ganhar” a qualquer preço.
Convencendo alguém da sua escolha religiosa, política ou sexual.
Mas, voltando aos vacilões … a delação de Antonio Palocci extra oficial, além da oficial, prestes a ser assinada, jogando Lula no centro do furacão, fez com que algumas pessoas elevassem a postura de José Dirceu que “não caguetou” ao Olimpo.
Trataram um tema tão fundamental para o avanço social, como um, Fla X Flu …
Ou seja, o maior desvio de dinheiro do Planeta em todos os tempos, é comparado no século XXI, como uma disputa de meninos que jogavam bola na rua nos anos 60, ou seja, no século passado.
Como se escolhe um assessor !
É muito estranho lermos as declarações de Dilma, absolutamente surpresa com Palocci, por este ser um pulha, conforme declarou a ex-presidente, após a delação.
Aqui cabe a questão … como um líder escolhe seus principais assessores?
A princípio, o primeiro passo é buscar aqueles que atendam os requesitos técnicos.
No caso de Palocci, Lula o escolheu como Ministro da Fazenda, por Antonio Palocci reunir condições de executar uma política macroeconômica séria, sendo naquele momento o mais importante cargo para o mercado, no momento de transição.
E isto Palocci, diga-se a bem da verdade, fez muito bem no tempo que esteve a frente do Governo.
Em seguida, foi Ministro da Casa Civil de Dilma, o cargo mais importante politicamente, abaixo somente da presidência.
Uma dezena de anos correu, e agora que Palocci está envolvido com a Justiça, descobrem que ele é um cagueta, frio e calculista.
Como é possível, somente agora os ex- presidentes Lula e Dilma, terem descoberto tal falha de caráter ?
Pressupõem-se que vencida a etapa técnica que caracteriza a escolha de um assessor, o próximo passo é avaliar, suas condições morais. Ou não ?
E se isso não foi feito por Dilma e Lula, significa tecnicamente que ambos, não reúnem condições de dirigir um boteco, quanto mais um país.
Afinal se não conseguem entrevistar o mais importante assessor das respectivas gestões…
Para piorar, conviveram 13 anos com um pulha, e não perceberam que ele não era de confiança? Sem caráter?
Que nível de entendimento estas lideranças possuem da sociedade que frequentam?
E tem mais … estamos no século XXI !
Falar a verdade, contar e confessar delitos, é condição sine qua non , de uma sociedade minimamente evoluída ou que pretende sê-la.
Afinal, os anos 60 onde meninos jogavam futebol na rua e sonhavam em lutar nas matas da Bolívia, é coisa do século passado.
Texto: Roberto Mangraviti
Outros Textos do Autor:
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(*)Alcagueta vem do verbo alcaguetar. O mesmo que: acusa, cagueta, delata.
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Imagem de Palocci: G1