No primeiro semestre deste ano, especialistas do Painel Intergovernamental de Mudanças Climática (IPCC) da ONU já haviam anunciado um grande aumento das emissões de gases de efeito estufa (GEE), que provocam o aquecimento da atmosfera e com isso as mudanças rápidas do clima. Recentemente, durante a primeira conferência nacional sobre o tema, especialistas brasileiros do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC) lançaram um relatório sobre como esta mudanças afetarão o Brasil em aspectos econômicos e sociais.
A publicação em três volumes foi preparada por 350 especialistas e traz uma série de diferentes previsões sobre o que poderá acontecer, dependendo de um aumento maior ou menor da temperatura da Terra. Segundo o documento, a temperatura média no Brasil poderá aumentar de 3º C a 6º C até 2100, o que deverá trazer mudanças no regime de chuvas das diferentes regiões – fato que influenciará bastante a agricultura e a geração de energia.
Na região amazônica, por exemplo, a temperatura média poderá subir 6º C, o que poderá trazer uma mudança na distribuição das chuvas, fazendo com que os índices pluviométricos caiam em até 45%. O fenômeno fará com que bacias hidrográficas tenham menos volume de água, alterando a vegetação e a fauna e provocando impacto nas atividades econômicas. O documento diz que o rio Tocantins, por exemplo, passando por Goiás, Tocantins, Maranhão e Pará, sofrerá uma redução em 30% em seu escoamento. Tal fato afetaria a geração de energia nas grandes hidrelétricas – Tucuruí, Estreito, além de outras ainda por construir – ao longo do rio, desestabilizando a rede nacional de eletricidade. Outro provável aspecto é que com a redução dos índices pluviométricos na Amazônia e queda da evapotranspiração na floresta, as nuvens de chuva que usualmente se deslocam desta região para o Centro-Oeste, Sudeste e Sul, seriam menos volumosas.
Na região Nordeste o aumento da temperatura em mais 5,5º C aceleraria o processo de desertificação da região, destruindo o já bastante afetado bioma da Caatinga. A área do Agreste ficaria cada vez mais seca e imprópria para a atividade agrícola, provocando a gradual migração de milhões de sertanejos para as capitais ou outras regiões do país. Outra situação apresentada pelo relatório é o aumento de 30% das chuvas na maior parte da região Sudeste e de 40% no Sul. Ainda na região Sul, a bacia dos rios Paraná e Prata terá um aumento de vazão entre 10% a 40%.
Com todas estas mudanças no regime das chuvas e nas temperaturas médias, o Brasil também enfrentará grandes desafios no setor agrícola. Especialistas que analisaram a situação preveem que a produtividade das culturas de soja poderá cair em 20% nos próximos sete anos, chegando a uma queda de 24% até 2050. Da mesma forma, a cultura do arroz poderá encolher em 7,5%, a do algodão 4,7% e a do milho 16%.
É importante observar que estas previsões não são sentenças e não ocorrerão da noite para o dia. Muito depende de como será o aumento das emissões por todo o globo. Países que até agora não assumiram compromisso de reduzir sua geração de gases, como a China, os Estados Unidos, o Japão e inclusive o Brasil, deverão adotar obrigações em futuro próximo. No caso do Brasil há que se investir muito mais na geração de energia de fontes renováveis e diminuir definitivamente os desmatamentos na Amazônia.
Ricardo Ernesto Rose jornalista, graduado em filosofia e pós-graduado em gestão ambiental e sociologia. Desde 1992 atua nos setores de meio ambiente e energia na área de marketing de tecnologias. É diretor de meio ambiente da Câmara Brasil-Alemanha e editor do blog “Da natureza e da cultura” (www.danaturezaedacultura.blogspot.com)