5 Minutos Entrevista o maestro o italiano Emmanuele Baldini, de renome internacional e violinista spalla da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (OSESP), com 21 CD’s gravados.
1.Seus estudos e carreira foram desenvolvidos na Europa, berço da música clássica. Considerando que o Brasil está longe desta tradição, como enfrentar está outra realidade, agora residindo no Brasil?
Quando decidi vir para o Brasil sabia que ia encontrar uma realidade diferente, e estava pronto para esta aventura. Trouxe comigo toda a experiência ganha ao longo dos meus anos de estudo em algumas das melhores escolas europeias e trouxe comigo também meu DNA de músico que veio de uma família de músicos (meus pais são ambos pianistas), de uma cidade (Trieste) que foi importante na história musical do tardo romantismo e de um País que pode ser considerado o País onde nasceu a música.
Aqui no Brasil encontrei um entusiasmo e uma curiosidade imensa, que é um grande estímulo para a criação artística. Existe naturalmente também aqui uma tradição musical, só que é pouco conhecida e subestimada pelos próprios brasileiros. Eu, com meu trabalho, tento ser apenas uma gota deste imenso oceano musical que é hoje o Brasil.
2.Qual a visão europeia sobre a música brasileira? Há vida além de Villa-Lobos?
Claro!!!
Primeiramente não podemos restringir este discurso a música clássica. Existe música boa e música ruim, esta é a única divisão real no mundo da música. O patrimônio popular brasileiro é incrível, e serviu de inspiração ao próprio Villa-Lobos. Mas como disse, são os próprios brasileiros que mostram uma certa preguiça em ir além do grande gênio Heitor Villa-Lobos. Camargo Guarnieri não é menos genial; Claudio Santoro, Francisco Mignone, Henrique Oswald e dezena de outros compositores, fazem do Brasil o País mais rico de criadores musicais das Américas, na minha opinião. É o único País das Américas que tem uma produção musical ininterrupta e de grande qualidade desde o 1700 até hoje.
3.Qual a importância da música clássica em tempos de “consumo descartável” da arte em geral, no Brasil e no mundo?
O consumo descartável faz parte da nossa sociedade, mas sendo que, infelizmente, não temos o poder de mudar uma tendência tão forte e evidente da sociedade, nosso papel é de missionários. Missionários da Arte, de tudo que é Belo, de tudo que passa por cima das modas, das tendências do momento, e que fica para sempre. Se hoje ouvimos uma Sinfonia de Mozart com o mesmo estupor e emoção que 200 anos atrás é porque trata-se de música criada por um gênio e porquê tivemos, ao longo dos anos, vários artistas que acreditaram nela e a valorizaram sempre. O papel do intérprete, neste caso.
4.Quais seus planos para o futuro?
Difícil traçar planos num mundo tão complicado e tão variável como o mundo da música no Brasil. Espero continuar na minha missão de fazer música a 360 graus, sem preconceitos, com a mesma curiosidade e entusiasmo de um adolescente e com a maturidade de um adulto.
5.Olhando sua carreira de conteúdo tão respeitável, o que o levou ao participar de uma ação tão intimista quanto ao “O Canto da Gente”?
Franz Schubert apresentava suas obras em saraus em casa de amigos músicos; Mozart estreou muitas das suas composições de câmara em sua própria casa em Viena; nos diários de Robert e Clara Schumann tem relatos de frequentes saraus musicais onde o casal adorava ir… A pratica do sarau intimista, para poucas pessoas e em espaços menores, sem muita formalidade, sempre pertenceu ao mundo da música, até alguns anos atrás. O Canto da Gente quer voltar a valorizar esses encontros como uma forma de diálogo humano e artístico entre músicos e amantes da música, sem barreiras, sem formalidade e com muito bom gosto.
Autor: Roberto Mangraviti