Roberto Mangraviti
“Mestre” Robson Miguel , capixaba, 58 anos, é maestro,violonista fundador da Orquestra Sinfônica de Santo André e da Orquestra Sinfônica Kalein de Madri, Espanha. Em 1991, tocou no evento em comemoração aos 500 anos do descobrimento da América , em que o governo espanhol
reuniu 67 violonistas de todo o mundo no Castelo de Córdoba e eleito o”maior violonista do mundo” na Espanha, possuindo 136 obras lançadas, entre livros didáticos, CDs, DVDs e vídeos aulas-show.
Pergunta 1 – Você nasceu numa tribo indígena … como sua carreira desenvolveu-se ?
Robson Miguel – Bem, ainda criança sai de Vitória e fui morar em Franca, no interior de São Paulo. E em razão das necessidades familiares, tornei-me engraxate para sobreviver. Mas a paixão pela música está na minha alma, e ao entrar no conservatório, consegui imediatamente tornar-me um “professor” de violão, tendo por vezes 2 ou 3 alunos simultaneamente em aula.
Pergunta 2- De engraxate a musico … como isto transcorreu ?
Robson Miguel – Deus me deu um dom, possuir um ouvido absoluto. Nasci assim … se ouço uma goteira no telhado, preciso consertá-la imediatamente, pois o ruído da gota me faz pensar : “temos um mi menor aqui “ (risos). Amar o violão portanto, é amar a si próprio, pois ele é literalmente um “instrumento”que me conduz na jornada da vida. Sendo assim, a musica e arte me levou para Espanha, terra do violão. Lá tive um programa na TV Espanhola. Morei também na Alemanha e hoje minha musica está em mais de 100 países pelo mundo.
Pergunta 3- Fale sobre estas experiências no exterior e o impacto na sua arte, afinal você foi eleito o maior violonista do mundo?
Robson Miguel – Morar na Europa, traz uma bagagem cultural imprescindível, até porque a cultura de cada país é muito bem cuidada e conservada. Sendo assim, tocar Chopin, Bach, Beethoven, Beatles e Rolling Stones, ou seja do clássico ao pop, nas terras onde estes músicos fantásticos nasceram, é maravilhoso … ainda mais sendo reconhecido pelos próprios cidadãos destes países. Assim, convivi com Pacco de Lucia e tantos outros gênios do violão e quando fui eleito o maior violonista do mundo, na Espanha, terra do violão, compreendi ainda mais a grandiosidade da musica brasileira, pois somos um caldo de cultura incrível.
Pergunta 4- Falando em cultura brasileira, como foi o “resgate” da cultura indígena, que tem se mostrado mais presente na sua vida nos últimos tempos?
Robson Miguel – Depois de retornar ao Brasil definitivamente, fui há quase 20 anos visitar minha tribo, onde nasci em Vitória do Espírito Santo. Fiquei muito impactado com as lembranças de infância e ao retornar para São Paulo, visitei uma outra tribo em Monguaguá, no litoral paulista. Nesta última visita, estreitei os laços indígenas e acabei tornando-me há 16 anos Cacique, com muita honra, que busca resgatar os valores esquecidos da cultura indígena, lamentavelmente largados e até “enterrados vivos”, pelos colonizadores . E todo este movimento se consolidou ainda mais através do meu casamento, com minha esposa da tribo tikuna, We’e’na Miguel.
Pergunta 5 – Então a bandeira indígena agora está mais presente na sua vida?
Robson Miguel – Ah sem dúvida. Na verdade sempre esteve, mas sinto-me na obrigação de deixar um legado para meu povo e antepassados. Até porque sou membro do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, ocupando a cadeira de Teodoro Sampaio. E procuro sempre levar a cultura indígena para os quatro cantos, assim como a música, tão presentes no meu coração. Inclusive, há um ano criamos o “Programa Cultura Indígena”, veiculado pela web aqui no Portal Sustentahabilidade ( www.sustentahabilidade.com.br), onde em mais de 30 capítulos produzidos, estamos contatando em vídeo aulas, a verdadeira História do Brasil, na versão dos índios, os verdadeiros donos destas terras. Este é o primeiro programa em TV(web) no Brasil, e talvez no mundo, onde um índio conta a história do seu povo, que neste caso é a própria História do Brasil.
Cacique Robson Miguel
