Hoje se fala muito na questão de gênero, se pleiteia a igualdade dos direitos, mas será que as drogas, sejam elas lícitas ou ilícitas, agem no corpo masculino e no feminino da mesma forma? Estudos mostram que não.
Foi a partir da década de 70 que a atenção dos cientistas se voltaram para as mulheres e somente em 1994, por determinação dos institutos de saúde americanos, que as pesquisas passaram a incluí-las. Até então, em razão de aspectos culturais e sociais, tinha-se a ideia de que este mundo pertencia apenas aos homens.
Essa falta de dados mais consistentes, as informações muitas vezes contraditórias, refletem no pouco investimento direcionado aos programas e centros de tratamento voltados à população feminina. Poucas são as clínicas que fazem um atendimento específico.
Estudo em 2008 realizado pelo psiquiatra Richard Grucza da Universidade de Washington, mostra que o aumento do uso de substâncias (álcool e drogas) tem sido maior no universo feminino.
Em 2007 e 2008 o uso entre adolescentes do sexo masculino caiu em torno de 10% enquanto entre as jovens houve um aumento de 6% (National Survey on Drug Use and Health – NSDUH nos EUA).
Os estudos indicaram que as mulheres são mais vulneráveis ao abuso e dependência de drogas.
Passam de maneira mais rápida ao uso de substâncias pesadas e como consequência enfrentam dolorosas questões físicas e sociais.
Na questão física temos os hormônios femininos (principalmente o estrogênio) que afetam diretamente o sistema de recompensa (artigo anterior – O Caminho das Drogas no Cérebro) e por isso influenciam na resposta às drogas.
EFEITO TELESCÓPIO
No uso do álcool, por exemplo, a mulher desenvolve o abuso e a dependência de forma mais rápida. É o que se chama de “efeito telescópio”, isto é, ela inicia o tratamento com um histórico mais curto de problemas, mas com sintomas equivalentes.
GATILHOS EMOCIONAIS
Muitos podem ser os gatilhos emocionais que induzem a mulher a iniciar seu caminho no mundo do álcool e das drogas:
- A insatisfação com a vida e com o próprio corpo levando ao abuso de medicações. Quando percebem que não conseguem atingir a meta, buscam outro caminho de satisfação entre as drogas.
- O ‘ninho vazio’, quando os filhos saem de casa para viver a própria vida. Muitas se entregam à bebida (alcoolismo tardio).
- Problemas de relacionamento (traição, separação, carência).
- Pouca realização pessoal e profissional, etc.
Apesar de tantos problemas e sofrimento, é comum a mulher deixar a dependência em segundo plano (negação do transtorno) para buscar apenas tratamento para as comorbidades, ou seja, outras doenças, questões familiares.
Este é um comportamento compreensível pois a imagem da mulher adicta em nossa sociedade é totalmente repreensível. Sofre preconceito e discriminação, inclusive no meio familiar e na instituição de saúde; convive com estigma, perde sua identidade, o direito de exercer seus papéis, enfim, sofre consequências muito pesadas.
Conforme orientação mencionada na pesquisa “Drogadição Feminina no Brasil: Uma Análise Epidemiológica”, o tratamento direcionado ao público feminino deveria considerar as particularidades da mulher para um efeito terapêutico mais efetivo. Além disso, priorizar muito mais o fato de ser ‘mulher’ do que o de ser ‘drogadicta’.
No próximo artigo continuaremos falando da Dependência Química Feminina, abordando aspectos da saúde, gravidez, fertilidade, influência profissional, etc.
Texto de Veronica Salete e Maria Cristina Lopes
Outros Textos das Autoras:
http://sustentahabilidade.com.br/coluna-dependencia-quimica-ferias-e-feriados-perigo/
http://sustentahabilidade.com.br/dependencia-quimica-no-ambiente-de-trabalho/
Saiba mais:
Mente e Cérebro – 08/2010
Reportagem – Perigo para Elas
Site: www.senado.gov.br
Artigo – Consumo Feminino de Drogas
II Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (LENAD) 2012
Inst. Nac. de Ciências e Tecnologia (INPAD)- UNIFESP