Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) a dor em geral atinge 30% da população mundial. No Brasil a dor crônica atinge de 15% a 40% da população, conforme dados da Sociedade Brasileira de Estudos para a Dor (SBED).
Para tratamento das dores há três classes de analgésicos: os comuns (dipirona, paracetamol), os anti-inflamatórios (aspirina, ibuprofeno, diclofenaco) e os opioides (tramadol, fentanil). A cada paciente será ministrado o que for mais adequado ao quadro de sintomas apresentado.
Os opioides, no qual vamos pautar este artigo, são derivados do ópio e são muito parecidos com substâncias naturais fabricadas pelo organismo. Ao se fazer cortes na capsula da papoula, obtém-se um suco leitoso, o ópio. Essa seiva quando seca passa a ser chamada pó-de-ópio. Desse pó são extraídas várias substâncias, entre elas a morfina. Outra substância extraída é a codeína, também utilizada como antitussígeno (inibidor da tosse).
Ambas são substâncias naturais. Há outras sintéticas também chamadas de opioides e utilizadas como medicamento, que são ainda mais potentes.
A revista Super Interessante de Outubro/2017, em seu artigo “O Remédio Mais Perigoso do Mundo” traz a informação de que a morfina se encaixa nos receptores opioides que estão presentes em várias regiões do cérebro e normalmente são ativados pelos analgésicos naturais, produzidos pelo próprio organismo, como a endorfina.
Quando o medicamento vira droga
Conforme explicado no site “Fundação Para Um Mundo Sem Drogas” os opioides são drogas que atuam no Sistema Nervoso para aliviar a dor porém, o uso constante e indevido pode levar à dependência física e sintomas de abstinência. O risco se torna ainda maior quando as substâncias são sintéticas.
A pesquisa elaborada pelo “Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNODC)” sobre o consumo de drogas no mundo aponta o uso abusivo de medicamentos no Brasil.
Os dados apontam para uma alta prevalência de uso não médico de opioides (analgésicos) de prescrição nos países da Costa Rica, Chile e Brasil (Globo G1 23/06/2011).
Um dos medicamentos mais usados e que vem causando dependência é o oxicodona (OxyContim, Oxyfast e Percocet). Este remédio é classificado como tarja vermelha. Temos o Fentanil, opioide sintético, que não contém papoula e é 100 vezes mais forte que a morfina. Sua apresentação é uma espécie de pirulito , que vai se dissolvendo lentamente na boca.
O uso abusivo desses remédios parece ter uma prevalência maior entre profissionais de saúde, provavelmente pela facilidade de acesso.
Diante de fatos tão contundentes, o Brasil se prepara para o sucessor desses medicamentos. Em 2014 chegou ao mercado americano o Zohydro, 10 vezes mais potente que o outros e tão forte que apenas dois comprimidos pode levar à morte.
Segundo o psiquiatra Arthur Guerra da USP, também cresce o uso entre pessoas que já têm dependência em alguma droga e querem experimentar novas.
Os opiodes são tão viciantes que nos EUA muitos usuários migraram para heroína. O número de mortes em heroína quadriplicou desde 2010. Calcula-se que 80% dos novos usuários em heroína começaram nos analgésicos opioides, prescritos por um médico, diz Nora Volkow, diretora do NIDA – Instituto Nacional Contra o Abuso de Drogas dos EUA.
Para o tratamento da dependência em opioides é usada a Metadona, um opioide sintético mais leve, que alivia os sintomas de abstinência provocados pela falta do medicamento. É um tratamento que precisa de rigoroso acompanhamento pois a Metadona também induz à dependência. O papel da família em todo esse processo também é muito importante pois vai auxiliar o dependente na recuperação e na prevenção de recaídas.
Temos aqui um sinal vermelho pois os opioides já estão sendo comercializados na farmácia mais próxima de você.
Autoras: Veronica Salete e Maria Cristina Lopes
conato@sustentahabilidade.com.br
Outros Textos das Autoras:
http://sustentahabilidade.com.br/o-caminho-das-drogas-no-cerebro/
http://sustentahabilidade.com.br/o-mundo-das-drogas/
Saiba mais:
Revista Super Interessante nr. 380 – Outubro/2017
Artigo: O Remédio Mais Perigoso do Mundo
G1.globo.com: ciências e saúde/remédios
Artigo: Morte de celebridades alerta para uso abusivo
De Medicamentos no Brasil (20/03/10)
Capa: Que conceito
Foto: pra fora wordpress
Parabéns pelo texto. Lembrei da personagem Macabéa do livro da Clarice Lispector, que toma analgésico porque alguma coisa “dói”.