in ,

A vulnerabilidade da mulher e a Dependência Química – Parte 2

Mulher na Dependência Quimica

No artigo anterior trouxemos um pouco da imagem da mulher como protagonista no contexto da dependência química e chamamos a atenção para a necessidade de se respeitar suas particularidades para um tratamento mais efetivo e uma recuperação mais fortalecida (ou usar estruturada?).

Riscos na Gestação e Amamentação

Já sabemos o que as drogas causam no indivíduo, agora vamos entender os danos causados no feto e no recém-nascido. Quase todas as drogas passam da mãe para a corrente sanguínea do feto durante a gravidez.

Em linhas gerais, o uso de substâncias afeta o crescimento fetal; pode causar abortos espontâneos, malformações congênitas e deslocamento prematuro da placenta; aumenta o risco de complicações durante o parto e a criança nasce com baixo peso.

Temos o risco da Síndrome de Abstinência Neonatal, quando os bebês já nascem apresentando sintomas da dependência química que podem ser: tremor incontrolável, manchas na pele, respiração rápida, irritabilidade, choro estridente e outros. Segundo matéria da Revista Toxicodependências-SICAD (Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências) nº 1 de 2008 os sintomas podem surgir logo após o nascimento até duas ou três semanas depois (síndrome de abstinência tardia).

E todos esses problemas não encerram no parto da criança. No decorrer de seu desenvolvimento até a fase adulta poderá apresentar dificuldades de aprendizagem, de linguagem e de socialização e até alterações comportamentais.

A questão é que muitas grávidas na fase de pré-natal omitem o uso de substâncias, dificultando a avaliação médica e consequentemente prejudicando o direcionamento do tratamento.

As drogas trazem prejuízo também na amamentação. Conforme orientação da Academia Americana de Pediatria o uso de substâncias deve ser evitado durante o período de lactação para que não sejam transmitidas à criança. O álcool, por exemplo, pode modificar o sabor e o odor do leite materno levando à recusa do mesmo pelo bebê. Neste caso devemos considerar inclusive os fármacos. O médico deverá avaliar o risco da medicação durante este período.

O Ministério da Saúde disponibiliza um manual que auxilia os profissionais de saúde a avaliar o uso de substâncias durante o período de amamentação. Última edição foi 2010.

Saúde e Fertilidade

A literatura mostra uma significativa relação entre transtornos psiquiátricos (depressão, ansiedade, bipolaridade, fobias, etc) e a dependência química. Embora seja difícil em um diagnóstico clínico separar quais são os sintomas de um e de outro, parece haver um entendimento de que na mulher os transtornos tendem a ser a morbidade primária e a dependência, secundária.

Além das questões psicológicas, há outros aspectos da saúde física da mulher. A Profert–Medicina Reprodutiva relata que vários estudos demonstraram que as bebidas alcoólicas aumentam a incidência de câncer de mamas, principalmente se associadas ao uso de tabaco.

As drogas também interferem na fertilidade da mulher pois alteram os níveis hormonais, trazendo distúrbios do ciclo menstrual e dificultando a ovulação e até risco de aborto.  

Vulnerabilidade

Fato é que a mulher continua a ter uma grande vulnerabilidade social e cultural. Pesquisa mencionada pelo CISA – Centro de Informações sobre Saúde e Álcool mostra que em casos de estupro onde a vítima fez uso de álcool, ela é frequentemente responsabilizada. É como se a mulher estivesse sinalizando sua disponibilidade para participação no ato.

Ainda há muito preconceito e discriminação em relação à mulher adicta. É muito comum ouvirmos (ou até falarmos):  ”Homem bebendo em um bar já é feio, mulher então…”__

São muitos os aspectos que que levam a mulher ao cenário da DQ e poucos os programas direcionados a prevenção, tratamento e recuperação. Parece que aos poucos a sociedade como um todo está se conscientizando da complexidade do assunto.

Não importa o sexo biológico, o gênero ou a orientação sexual. O que importa é o ser humano atrás dessa imagem estereotipada, negligenciada muitas vezes pelos próprios familiares, que sofre, que precisa de ajuda e de uma oportunidade.

Texto de Verônica Salete e Maria Cristina Lopes

contato@sustentahabilidade.com.br

Outros Textos das Autoras

A Imagem da mulher diante da Dependência Química (Parte1)

A imagem da mulher diante da Dependência Química

SAIBA MAIS:

Site: www.bbc.com
BBC Brasil – Dez/2016
“Os bebês que já nascem em clínicas de reabilitação para dependentes de drogas”

Serviço Nacional de Saúde
Revista Toxicodependências nº 1 de 2008
“Síndrome de Privação Neonatal Revisão de Abordagem”

O que você acha?

Comments

Loading…

0
500anos da Reforma de Lutero com Robson Miguel

500 Anos da Reforma de Martinho Lutero Por Robson Miguel

Ações em Sustentabilidade

Ações em Sustentabilidade, qual o resultado ?